terça-feira, 29 de março de 2016

Dúvidas no calvinismo | Parte 4 | #05


8 – Se está tudo predestinado eu posso pecar à vontade?


Essa questão traz uma espécie de antinomianismo que significa literalmente "antilei".

A heresia do antinomianismo nega ou diminuiu a importância da lei de Deus na vida do eleito. Os antinomianos cultivam aversão pela lei, uma parte deles acreditam que não têm obrigação de obedecer às leis morais de Deus porque Jesus os libertou da lei. Insistem em que a graça não só liberta da maldição da lei de Deus, mas também nos liberta da obrigação de obedecê-la. A graça, pois, se torna uma licença para a desobediência.

A questão proposta acima não aponta diretamente para este tipo de antinomianismo, mas cria uma espécie de antinomianismo fatalista, que por crer que todas as coisas estão predestinadas, anularia a responsabilidade pessoal do indivíduo, logo, seria lícito pecar de forma deliberada.

O primeiro ponto para responder essa questão é bem simples.

Nós não devemos pecar de forma deliberada pelo simples fato de Paulo ter ensinado que pecar de forma deliberada não é uma atitude de alguém que confessa Cristo e foi batizado (Romanos 6:1-4). Esta observação já deveria satisfazer os cristãos, mas temos uma segunda questão.

Alguns oponentes da fé cristã (alguns se dizem cristãos e tem este argumento), afirmam que a predestinação anula a justiça de Deus, ou seja, se tudo está predestinado, o homem não pode ser responsabilizado pelos seus pecados, mas além dessa proposição ser uma mentira, ela não tem base bíblica.

Tendo como base a Escritura, que ensina a predestinação, temos como premissa um determinismo absoluto, portanto, o homem não tem liberdade em nada relativo a Deus, entretanto, ele é moralmente responsável e devedor, pois Deus o considera moralmente responsável e devedor.

O famoso jargão “responsabilidade pressupões liberdade” é completamente arbitrário e anti-bíblico.

A Escritura ensina que a responsabilidade pressupõe o julgamento divino, e julgamento divino pressupõe a decisão de Deus de julgar. Não existe nenhuma relação com a questão do homem ser livre ou não (Salmos 7:11 - Romanos 2:2 - Romanos 3:19 - Apocalipse 14:7 - Apocalipse 20:12).

De fato, uma vez que a responsabilidade humana pressupõe o julgamento divino, e desde que julgamento divino pressupõe soberania divina (o direto e o poder de Deus para julgar), segue-se que a responsabilidade humana pressupõe soberania divina, e não a liberdade humana. Nós somos moralmente responsáveis precisamente porque Deus é soberano e nós não somos livres. Se fossemos livres de Deus, poderíamos optar por não sermos julgados por Ele.

Muitas pessoas talvez não acreditem no determinismo bíblico porque contradiz suas noções de liberdade, responsabilidade e justiça; no entanto, as noções de liberdade, responsabilidade e justiça dessas pessoas são noções humanistas e pecaminosas.

As pessoas que desprezam o determinismo cristão apelam para a intuição, amam mais a sensação que a Escritura, mas o caminho correto para trilar não é a nossa intuição ou sensação, mas a verdade bíblica.


9 – Qual necessidade de tantas orientações na bíblia, se os eleitos farão a vontade de Deus?


Um cristão verdadeiro sabe que Deus faz o que quer, como quer e quando quer, mas não pode ignorar os meios que ele usa para fazer a Sua vontade.

A Bíblia é um dos principais meios para que Deus faça sua vontade, ou melhor, é através da revelação escrita que Deus opera neste mundo, inclusive, para você formular essa pergunta, seus pressupostos foram baseados na Escritura.

Você só sabe que existe uma necessidade de orientações, pois Deus revelou na Escritura que o homem é um ser cheio de necessidade. Você só sabe o que são orientações, pois Deus é autor primordial de toda orientação e registrou isso em sua Palavra. Você só sabe que existem eleitos, pois a Bíblia nos ilumina sobre este tema, e você só sabe que Deus existe de forma exaustiva, pois a Escritura ensina isso, ou seja, é impossível raciocinar sem a Escritura.

A Bíblia traz os registros precisos e autoritativos sobre Deus e sobre toda realidade.

A Escritura é necessária como um fundamento para tudo da civilização humana. Mesmo os que rejeitam a autoridade bíblica, assumem diariamente as pressuposições cristãs para governar suas vidas e pensamentos, embora eles recusem admitir isto.

A Palavra de Deus é relevante, pois traz noções exaustivas sobre assuntos últimos, tais como metafísica, epistemologia e ética. A Bíblia é necessária para todas as proposições significativas.

Além disso, o único meio para nortear e governar os aspectos da vida espiritual, incluindo pregação, oração, adoração e direção é a Escritura. A Escritura é também necessária para a salvação ser possível, visto que a informação necessária para a salvação está revelada na Bíblia.

Paulo escreve, “as sagradas Escrituras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus” (2 Timóteo 3:15). Portanto, a Escritura é necessária para o conhecimento que conduz à salvação, as instruções que levam ao crescimento espiritual, as respostas às questões últimas, e sobre qualquer conhecimento sobre a realidade. Ela é a pré-condição necessária para todo o conhecimento.


 10 – Como ter certeza da minha salvação?


Alguns dizem que se questionar sobre a certeza da salvação é um ponto que pode apontar para sua salvação, pois quem não é salvo, costuma não se preocupar com a salvação.

Calvino e Lutero discordam disso, eles afirmam que se alguém não tem certeza da sua salvação, sua fé não é autêntica, e ainda que se alguém tem uma fé verdadeira, não pode duvidar da sua salvação final, por estes motivos, é um tanto difícil confiar neste pressuposto da dúvida da salvação, como uma dica sobre a condição do salvo, logo, é preciso procurar outros meios para confirmar se uma pessoa é eleita ou não.

Um dos meios para saber se o individuo é salvo ou não são as evidências da graça, ou a obra que o Espírito santo realiza através de nós.

O cerne deste argumento reside no fato de que o verdadeiro crente frutifica em sua nova filiação em Cristo (João 15:7,8; Mateus 7:16,17; Efésio 2:10; I João 3:18,19). O eleito traz consigo marcas que fazem com que a fé verdadeira seja revelada.

Estas marcas são literalmente evidências da graça regeneradora que agiu e continua atuando na vida do cristão que está em Cristo.

Mesmo tendo a certeza que as obras da fé podem ser falseadas, é preciso salientar que o fator gerador de segurança não são as obras em si, mas o novo coração gerado por Deus, que agora deseja, sente, percebe e pratica as boas obras, busca a santificação, adora e ama imitando a Jesus com alegria. É aí que reside a diferença entre a verdadeira fé e a fé falsa ou temporária. O salvo que possuí a verdadeira fé persevera, pois a fé que foi dada a ele, foi dada por Deus e Deus está sobre o controle dessa fé.


Por: Higor Crisostomo

Nenhum comentário:

Postar um comentário