Quem estudou filosofia vai reconhecer o filósofo da figura, Diógenes de Sinope (413 - 323 a.C.). Diógenes era um pensador grego, símbolo do cinismo. Sua filosofia ensinava uma forma de viver um tanto ascética. Ele pregava que os homens não deveriam viver dependentes das luxúrias da civilização. Dizem que Diógenes era tão desprendido das coisas materiais que vivia nas ruas, dentro de um barril. Ele tinha uma forma um tanto exótica de questionar a civilização grega, e diz-se que o mesmo perambulava pela Grécia antiga com uma lanterna na mão, à procura de um homem honesto. Imitando Diógenes, convido todos os leitores a procurarem, com uma lanterna na mão (a Escritura), um pentecostal bíblico.
O Pentecostalismo no Brasil é formado por três momentos diferentes: O Clássico, o Neoclássico e o Neopentecostal.
O Pentecostalismo Clássico iniciou-se no Brasil no ano de 1910 e estendeu-se até 1950. Este momento vai desde a implantação do pentecostalismo no Brasil com a Congregação Cristã no Brasil (CCB - 1910, em São Paulo) e da Assembleia de Deus (AD - 1911, Pará) até sua difusão por todo país. A ênfase dessa primeira onda foi o batismo com o Espírito Santo evidenciado pelo “falar em línguas estranhas”, fenômeno este chamado de glossolalia[1].
A glossolalia é tão enfatizada por essa primeira onda que membros não participantes deste fenômeno, na maioria das vezes, são classificados como não espirituais, e em algumas denominações não podem exercer cargos eclesiásticos.
As características secundárias deste primeiro grupo são o ascetismo, que é a rejeição do mundo secular, e a ênfase na experiência pessoal.
O núcleo querigmático fundante do Pentecostalismo Clássico é o fato que ocorreu no "Dia de Pentecostes" (Atos 2), acontecimento extraordinário que influencia toda liturgia Pentecostal. Os líderes do movimento Pentecostal Clássico costumam tentar em todo culto reproduzir o que aconteceu em Atos 2. Caso o culto não represente aquilo que o autor de Atos 2 registrou, Deus não estaria naquela celebração, e aquele culto é classificado como frio ou não espiritual.
A segunda onda chamada de Pentecostalismo Neoclássico teve início na década de 50 com a chegada de dois missionários dos EUA em São Paulo. Estes missionários eram da “International Church of The Foursquare Gospel”, uma congregação pentecostal muito popular nos EUA.
No Brasil, eles criaram a Cruzada Nacional de Evangelização, que influenciou a criação da Igreja do Evangelho Quadrangular (IEQ - 1951, São Paulo). No rastro da IEQ surgiram as igrejas Brasil Para Cristo ( BC - 1955, São Paulo), Deus É Amor ( DA - 1962, São Paulo), Casa da Bênção (CB - 1964, Minas Gerais) e inúmeras outras de menor porte. Diferente da primeira onda, esta se caracterizou pela ênfase na cura divina, pela muita influência nas rádios e pelo evangelismo itinerante em tendas de lona. Dentro desta segunda onda, todo problema de saúde era interpretado de maneira sacral, ou seja, a origem das doenças tinham como causa primária um problema espiritual e a solução eficaz seria apenas a oração; além disso, este poder transcendental miraculoso era oferecido ao fiel como um chamariz.
A última onda nomeada como Neopentecostal, vertente que mais cresceu na última década, começa na segunda metade dos anos 70 e tem seu crescimento acentuado no decorrer dos anos 80 e 90. Os expoentes dessa terceira onda foram: Igreja Universal do Reino de Deus (IURD - 1977, Rio de Janeiro), Internacional da Graça de Deus (IG - 1980, Rio de Janeiro), Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra (CESNT - 1976, Goiás) e Renascer em Cristo (RC - 1986, São Paulo).
Esta onda, diferindo-se da primeira, já não rejeita o mundo; pelo contrário, tem forte tendência de acomodação ao mundo, participam da política partidária e utilizam intensamente a mídia. A principal característica desta última onda é a Teologia da Prosperidade (TP) que parte da ideia que “É dando que se recebe”, como se o fiel pudesse barganhar com Deus através de ofertas financeiras, e que o cristão autêntico está destinado a ser próspero materialmente, saudável, feliz e vitorioso em todos os seus empreendimentos terrenos. Além disso, trabalha com a teologia de guerra espiritual contra o Diabo, como se o Diabo e Deus fossem forças opostas que disputam todo instante os seres humanos, uma espécie de maniqueísmo[2] ; e nessa batalha, o ideal é estar ao lado do Divino, usando qualquer tipo de método para derrotar o Inimigo.
É perceptível que cada onda tem uma característica própria, mas é impossível negar que há uma comunicação entre as ondas. Essa transmissão teológica ocorre através de uma tríade, que como resultado produz o movimento que existe hoje, que irei nomea-lo como Hiper-Pentecostalismo[3].
No Pentecostalismo Clássico é evidente a ênfase no falar em línguas estranhas (glossolalia), e toda uma busca mística norteia o culto. Foi dentro desta mística litúrgica que o ritual de cura divina enfatizado pelo Pentecostalismo Neoclássico surgiu.
Já a Teologia da Prosperidade não é fácil percebida no Pentecostalismo Clássico, mas o fiel desta onda já tem em mente que oferta é determinante para Deus abençoa-lo, e que o jejum é uma espécie de barganha, um sacrifício que tem como resultado todo tipo de bênçãos.
O Pentecostalismo Neoclássico deixa em segundo plano a glossolalia, e se desenvolve em cima da teologia de cura divina do Pentecostalismo Clássico. Todo leque doutrinário Neoclássico tem como filtro a cura divina.
Neste segundo momento pentecostal a liderança está interessada em promover congressos itinerantes onde o foco principal é realizar milagres, pois estes acontecimentos sobrenaturais atraem muitas pessoas, e segundo eles, convertem mais indivíduos.
Por fim o Neopentecostalismo, que é sinônimo de Teologia da Prosperidade onde a barganha com a divindade já presente no Pentecostalismo Clássico, mas agora aprimorada, torna-se a hermenêutica principal. Toda realidade do fiel Neopentecostal gira em torno de bênçãos materiais, metafísicas e relacionadas à saúde.
Hoje dificilmente iremos encontrar igrejas pentecostais com apenas uma ênfase teológica. Como já mencionado, o movimento pentecostal contemporâneo pode ser chamado de Hiper-Pentecostalismo, onde todas as características da tríade pentecostal (Glossolalia, Cura, Teologia da Prosperidade) se misturaram e resultam em um movimento único.
Agregar diversos tipos de teologia em um movimento em si não é problemático, mas como as partes agregadas que formaram o Hiper-Pentecostalismo em si são defeituosas, o resultado final deste aglomerado de teologia acaba sendo controverso.
A Escritura nunca ensinou que devemos enfatizar a Glossolalia, Cura e muito menos a Teologia da Prosperidade. O texto bíblico sempre colocou no centro Cristo (João 5:39), por este motivo, dificilmente encontraremos um pentecostal bíblico, ou melhor, ao longo do desenvolvimento do movimento Pentecostal encontramos lideres que em alguns momentos esbarram numa teologia Cristocêntrica, algo que não é regra, mas é praticamente impossível encontrar um líder ou denominação pentecostal verdadeiramente Cristocêntrica.
Diferente da mensagem que ao longo dos anos o movimento Pentecostal enfatiza, o cristão bíblico deve enfatizar o Evangelho de Cristo, que é as boas novas do Reino de Deus. Essa mensagem traz o Messias prometido no Éden, o nascimento Dele em Belém da Judeia, Ele crucificado, Sua obra consumada na cruz pelos pecados dos eleitos e Sua ressurreição.
Toda teologia que não coloca o Evangelho de Cristo no centro, se torna um fim em si mesmo, causando enormes problemas.
Enquanto o aspecto principal do movimento Pentecostal não for à mensagem do Evangelho, o movimento estará fadado ao fracasso.
Que nossos irmãos pentecostais tenham essa consciência, e comecem uma grande reforma pentecostal.
Higor Crisostomo
[1] Fenômeno religioso onde o fiel entra em êxtase e profere sons ininteligíveis que se parecem com linguagem.
[2] Doutrina filosófica fundada pelo profeta persa Mani (ou Manes), no século III, sobre a qual se fundou um dualismo religioso sincretista, segundo o qual existe um conflito cósmico de forças antagônicas do bem absoluto (a luz) e do mal absoluto (as sombras), sendo que é dever do homem lutar pela vitória do bem.
[3] A partícula “hiper” carrega a ideia de muito, em alto grau ou além, no termo hiper-pentecostalismo denota a ideia de além do pentecostalismo, pois nos dias de hoje as ondas pentecostais se misturaram, e cada uma delas vai além da sua ênfase primária.
Exemplo: O Pentecostalismo Clássico que antes tinha como ênfase a glossolalia agora vai além desta prática, pois agrega também em suas doutrinas a teologia da prosperidade.
Muito bom, parabéns.
ResponderExcluirObrigado, irmão!
ExcluirCresci , no pentecostalismo tradicional , porém , não enfatizo nenhuma das três "doutrinas ". Gostei muito da sua exposição .
ExcluirÓtima leitura.
ResponderExcluirAcho que vc precisa frequentar uma Assembleia de Deus tradicional, principalmente quando o pregador for o Pastor Elienai Cabral ou Claudionor de Andrade
ResponderExcluirFicaria feliz se ele fosse a regra dentro do movimento pentecostal, mas eles são a exceção
ExcluirA ênfase dos três movimentos é a mmesma: o triunfo - por meio dos dons, da saúde ou da fortuna. O triunfo bíblico começa e termina na cruz.
ResponderExcluirA ênfase dos três movimentos é a mmesma: o triunfo - por meio dos dons, da saúde ou da fortuna. O triunfo bíblico começa e termina na cruz.
ResponderExcluirGostaria de lhe indicar primeiramente as Revistas da Escola Bíblica Dominical, depois você pega por exemplo o Comentário Bíblico Pentecostal do NT, depois da pegue a Teologia Sistemática do Stanley M. Honton, aí depois de tudo isso, você escreve algo sobre o pentecostalismo.
ResponderExcluirFicaria feliz se ele fosse a regra dentro do movimento pentecostal, mas ele é a exceção
ExcluirFUI 40 anos pentecostal ""clássico"" e neopentecostal do RR Soares e assino embaixo tudo quê você escreveu. Hoje o Senhor pela sua graça me chamou para uma igreja reformada. Obrigado ☺🙏
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