sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Sobre a desumanização do homem, o aborto e afins



https://www.youtube.com/watch?v=c0-FpjTSKuc

Preciso começar citando o famoso partido holandês: “Partido da Caridade, da Liberdade e da Diversidade”. Apesar do pretexto nome, o partido que vem lutando judicialmente por sua legalização junto à suprema corte dos Países Baixos, tem como pauta assuntos como direito dos animais e a legalização da PEDOFILIA e PORNOGRAFIA INFANTIL (vale ressaltar o apoio do Partido Comunista da Grã-Bretanha a ultima pauta). Diante de dessas informações queria propor algumas perguntas: 

1- Como um Estado contemporâneo pode aceitar tais pautas? 
2- O que direito dos animais tem haver com PEDOFILIA?

Augusto Comte (1798 – 1857) afirmava que com o avanço cientifico a sociedade alcançaria um avanço moral e ético. Uma ideia tão utópica foi rapidamente superada, tomamos como exemplo a Alemanha. O ápice científico da sociedade alemã gerou o famoso campo de concentração nazista de Auschwitz. Não deveria surpreender um partido como de pedófilos holandês, consiga ganhar legitimidade politica (mesmo estando atualmente barrado judicialmente, o partido já conseguiu sua legalização algumas vezes), moral clássica tem perdido espaço a passos largos nas discussões e decisões politicas do mundo ocidental. É um fato curioso, quando se tratando de animais (sim eles devem ser protegidos) o partido se prontifica a estabelecer um tratado universal para preservá-los, mas se quando o assunto são as crianças o mesmo partido quer que sua preservação sexual seja tolida afim de que adultos perfitos se beneficiem! Em pleno séc. XXI, crianças tem ganhado menor valor que animais. 

Alguns poderiam afirmar que esse tipo de esse tipo de atitude é restrita a alguns poucos grupos, tal afirmação é errônea, poderia citar vários grupos e organizações que tem relativizado o valor da vida humana, mas citarei outro grupo holandês, mas agora de renomados cientistas que defendem o infanticídio, que basicamente os pais tenham direito de tirar a vida do filho antes que o mesmo possa falar (segundo eles, a criança só é ser humano quando desenvolve a habilidade da fala). 
 O grande absurdo começou quando, na modernidade, o homem se tornou MÁQUINA ou simplesmente COISA tornando-se igual ou inferior a toda e qualquer criatura existente. Sendo apenas matéria e nada mais que matéria o homem vai do status de deus grego humanista a escoria da criação. A humanidade se destrói dia-a-dia enquanto o magistrado soa seu martelo aprovando a devastação moral da sociedade moderna. Nessa brincadeira toda, os mais fracos geralmente são os mais afetados, é como no clip da banda britânica Pink Floyd onde crianças caem em uma imensa maquina de fazer salsichas. 

É valido lembrar que alguns países estão afundados até o pescoço com esse tipo de relativização, outros caminham a grande esteira da maquina de salsinhas a largos passos! É o caso do nosso tão querido Brasil. As novas decisões tomadas acerca da legalização ou não do aborto, antes dos três meses representam fielmente essa situação, a lei determina e dita ao ser humano a idade que o mesmo passa a ser humano e isso é obviamente um absurdo, adultos novamente tem seu direito afirmado acima de mais fracos, o conceito de vida humana é novamente relativizado e o homem passa a ser enxergado como matéria e nada mais que matéria.

Infelizmente os homens modernos (homens sem chão) estão certos em seu raciocínio, pois afirmaram não haver absolutos. Porém mesmo que por algum motivo você discordar sobre a existência de absolutos precisa concordar que a não existência só gerará um caos moral e social! Mas felizmente existe uma cosmovisão (visão de mundo), baseada no ABSOLUTO, que tem incomodado o relativismo no decorrer dos séculos, essa cosmovisão é a cristã. A visão cristã (pautada na bíblia) afirma que o ser humano é a imagem e semelhança de DEUS, seja no ventre materno ou no leito de morte, e isso dá uma dignidade ao homem que é única! Baseado nessa dignidade desde os primórdios da fé cristã, os cristãos lutam para que a vida humana seja preservada. No antigo império romano, crianças eram abandonadas ao relento e nos lixões em contra partida os cristãos adotavam as mesmas crianças que eram consideradas lixo para os romanos. 

Hoje a igreja não deve se dobrar as situações contra a qual sempre lutou, tenho visto muitos cristãos se posicionando a favor do aborto, isso demonstra a falta de conhecimento de muitos membros de igreja sobre o “ser cristão”. Da mesma forma que cristãos eram lançados nas arenas e coliseus por não se conformarem com as atrocidades romanas, servindo assim de espetáculo para os romanos, conclamo para que os cristãos não se conformem com a desumanização do homem e com o relativismo contemporâneo sem se intimidar por afrontas e perseguições. Perto está o Senhor!


Smailly Terrão

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Levítico 18:22 e a prática homossexual


No dia 26/06/16 a Suprema Corte dos Estados Unidos legalizou o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Antes dessa decisão, 13 estados Americanos proibiam esta prática, mas agora estes Estados serão obrigados acatar a medida. A mais alta esfera jurídica dos EUA aprovou esta decisão por cinco votos contra quatro.

No Brasil o casamento gay já é permitido. Isto se deu através de uma resolução (n. 175) do Conselho Nacional de Justiça tomada em 2013. Tal medida obrigou os cartórios deixarem de recusar a celebração de casamentos civis de casais do mesmo sexo ou deixar de converter em casamento a união estável homoafetiva.

Em 2013 no Brasil, não houve tanto alarde ou comemoração por simpatizantes da causa gay, mas após a decisão Americana, grande parte dos ativistas gays e pessoas que enamoram a causa, vieram a público manifestar apoio.

No mundo virtual o estopim das comemorações se deu quando o fundador da rede social Facebook, coloriu sua foto oficial com as cores do movimento GLBT, desde então, milhares de usuários começaram imitá-lo[i].

Em contra partida, alguns cristãos exortaram tais simpatizantes utilizando textos bíblicos. Os textos bíblicos mais utilizados para persuadir os militantes GLBT foram: Levítico 18.22. e Romanos 1:25;32.

O curioso é que muitos cristãos não aceitam o texto de Levítico como inspirado para refutar as práticas homossexuais, outros defendem o pecado homossexual como legitimo na esfera civil, numa espécie de cristãos laicos[ii].

Os dois grupos criam uma frente anti Pentateuco, a partir de duas principais argumentações.
O primeiro grupo de cristãos afirma que, o livro de Levítico é uma prescrição apenas para Israel, e que após o sacrifício de Cristo e por estarmos debaixo da dispensação da graça, grande parte das Leis dadas por Deus perde a jurisdição e que apenas as Leis confirmadas pelo Novo Testamento são válidas.

Já o segundo grupo acredita que Deus não dá diretrizes na esfera civil, afirmando que a bíblia é regra de fé apenas para os salvos, criando uma dicotomia entre sagrado e profano, secular e espiritual, assim, negam o valor das Escrituras como premissa para exortar os infiéis.

O primeiro grupo é diretamente influenciado pelo dispensacionalismo[iii]. A leitura bíblica dispensacionalista mutila as Escrituras, afirmando que tudo do Antigo Testamento, de Gênesis 12 em diante, pertence inteiramente a Israel segundo a carne, e que nenhum de seus preceitos (como tais) são obrigatórios àqueles que são membros da Igreja, a qual é o Corpo de Cristo. Também defendem que apenas os preceitos do Antigo Testamento validados ou repetidos no Novo Testamento são regras.

Este falso ensino se popularizou no Brasil com a chegada do pentecostalismo[iv]. Os missionários pentecostais eram em sua maioria dispensacionalistas.
É um enorme erro afirmar que a bíblia deve ser aplicada apenas a partir do Novo Testamento ou que as Leis do Antigo Testamento só se validam a partir de um filtro Neotestamentário.

Embora haja grande variedade ao longo das prescrições bíblicas, há uma inequívoca unidade subjacente ao todo. Ainda que Deus tenha empregado muitos porta-vozes que escreveram os textos bíblicos, as Sagradas Escrituras têm senão um Autor; e, embora Ele antigamente tenha falado “muitas vezes, e de muitas maneiras aos pais, pelos profetas” e “nestes últimos dias pelo Filho” (Hb 1.1,2), todavia, quem falou por eles era e é Aquele “em quem não há mudança nem sombra de variação” (Tg 1.17), que, por todas as eras, declara: “Eu, o Senhor, não mudo” (Ml 3.6).

PIERSON (1969) ilustra muito bem a relação e uniformidade entre Novo e Antigo Testamento:


As relações mútuas dos dois Testamentos. Essas duas divisões principais parecem-se com a estrutura dual do corpo humano, onde os dois olhos e ouvidos, mãos e pés, correspondem-se e complementam um ao outro. Não há apenas uma adequação geral, mas especial e mútua. Logo, elas precisam ser estudadas juntamente, lado a lado, para serem comparadas até nos menores detalhes, pois em nada são independentes umas das outras, e quanto mais precisa a inspeção, mais minuciosa parece a acomodação, e mais intrínseca a associação. Os dois Testamentos são como os dois querubins do propiciatório, voltados para direções opostas, todavia, encarando-se um ao outro e eclipsando com glória um lugar de misericórdia; ou, outra vez, eles são como o corpo humano ligado juntamente por juntas e tendões e ligamentos, com um cérebro e um coração, um par de rins, um sistema de respiração, circulação, digestão, nervos sensores e motores, onde a divisão é destruição.

Do começo ao fim, há perfeita concordância entre todas as partes da Palavra: ela apresenta um sistema de doutrina. Nunca lemos “as doutrinas de Deus”, mas sempre “a doutrina”: vide Dt 32.2; Pv 4.2; Mt 7.28; Jo 7.17; Rm 16.17, e contraste com Mc 7.7; Cl 2.22; 1 Tm 4.1; Hb 13.9, pois que é um todo único e orgânico. Tal Palavra nos apresenta uniformemente um só caminho de salvação, uma só regra de fé. De Gênesis a Apocalipse há uma Lei Moral imutável, um Evangelho glorioso para os pecadores que perecem.

O segundo grupo sofre uma enorme influencia de Tomás de Aquino. Na verdade foram os gregos (Platão) que defendiam uma separação entre o sagrado e o profano. Os gregos tinham uma visão que as coisas materiais eram ruins e profanas, enquanto a salvação dependia de libertar o espírito do material.

Tomás de Aquino herdou isso da filosofia platônica, assimilando o pensamento grego ao cristianismo.  Tomás de Aquino produziu uma estrutura dualística, dividindo o conceito de natureza e graça. Ele dizia que o homem está em um estado de natureza pura que precisa de uma adição de graça, quer dizer, além de nossas faculdades naturais, Deus dotara os seres humanos de um dom ou faculdade sobrenatural que os capacita a ter um relacionamento com Deus. Esse pensamento trouxe a visão que as coisas humanas são independentes das divinas, apesar de andarem juntas. O dualismo de Aquino produziu o pensamento de viver como homem natural e homem espiritual, coexistindo em um só ser. Partindo dessa premissa de Aquino, o pensamento vigente na cristandade é que se ia à missa para um ato sagrado, enquanto trabalhar era o lado profano.

O evangelicalismo brasileiro e inundado desta dicotomia de Aquino, fazendo com que o cristão não acredite que a cosmovisão bíblica seja um norte para cultura, arte, lazer, trabalho, educação, política entre outras coisas. Como resultado disso, a grande maioria dos cristãos brasileiros escolhe o humanismo[v] para nortea-los.

A palavra de Deus não deve ser regra apenas para os salvos e muito menos um norte apenas para a igreja. A bíblia é um padrão para tudo e para todos.
As prescrições bíblicas devem influenciar a cultura, arte, lazer, trabalho, educação, política e outras esferas da vida (1 Tm 1.9-10). Sabemos que este norte bíblico não leva à regeneração, mas é necessário para manter a ordem social.

O texto bíblico do Evangelho de Marcos 7:8-9 é muito claro em advertir àqueles que rejeitam a Escritura como autoridade final: “Negligenciando o mandamento de Deus, guardais a tradição dos homens... Jeitosamente rejeitais o preceito de Deus para guardardes a vossa própria tradição”, este é o principal motivo que deve levar todo ser vivente a nortear-se apenas a partir da revelação bíblica, a saber, as Escrituras.


Assim, o texto de Levítico é uma regra tanto para os cristãos quanto para os ímpios e deve ser utilizado para exortar todos.


[i] http://odia.ig.com.br/noticia/mundoeciencia/2015-06-26/facebook-libera-ferramenta-que-colore-foto-na-rede-em-apoio-ao-casamento-gay.html

[ii] http://www.barrabaslivre.com/2013/07/os-cristaos-laicos.html

[iii] O dispensacionalismo foi um movimento que surgiu em meados do século 19, na Inglaterra, como reação ao estado de frieza e liberalismo em que se encontrava a igreja oficial. Começou com reuniões de estudo bíblico em que uma nova maneira de interpretar as Escrituras foi desenvolvida. Partindo do texto de 2 Timóteo 2.15, e entendendo em sentido literal o verbo grego orthotomeo, ali empregado, como faz a Versão Inglesa King James, o movimento julgou encontrar neste texto a chave para a “correta” interpretação da Bíblia, ao traduzir aquele verbo como “dividir corretamente” e não “manejar corretamente” a palavra da verdade (com o sentido figurado de ensinar, expor ou interpretar corretamente), como temos em nossas versões em português.

[iv] O pentecostalismo surgiu nos últimos anos do século 19 ou nos primeiros do século 20. Todavia, por algum tempo ele se manteve relativamente modesto e circunscrito às fronteiras dos Estados Unidos. Seu crescimento vertiginoso e sua difusão internacional ocorreram a partir do famoso Avivamento da Rua Azusa, em Los Angeles, que teve início em abril de 1906. O movimento entrou cedo na América Latina, primeiro no Chile (1909) e logo em seguida no Brasil (1910).

[v] Humanismo é a filosofia moral que coloca os humanos como principais, numa escala de importância. É uma perspectiva comum a uma grande variedade de posturas éticas que atribuem a maior importância à dignidade, aspirações e capacidades humanas, particularmente a racionalidade.

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

"Nem calvinista, nem arminiano"


Tendo um pequeno conhecimento da história do cristianismo é impossível dizer que a afirmação a seguir é coerente: “Não sou calvinista nem arminiano”.

O calvinismo é fruto da Reforma Protestante, já o pensamento arminiano é uma antítese tardia ao calvinismo, que contraria o pensamento dos reformadores.

É impossível ter uma opinião nula sobre a doutrina da salvação. Você pode não conhecer as principais sistematizações soteriológicas, ou quem sabe apenas conhecer um lado, mas mesmo não tendo o mínimo de conhecimento sobre o assunto, suas afirmações sobre como a salvação se dá acabarão esbarrando em uma dessas duas doutrinas.

A história abaixo retrata os pontos inversos destas duas sistematizações. Leia, reflita e conclua qual das duas doutrinas se aproximam mais da sua visão soteriológica.

Em meados do século XVII, dirigentes da igreja em Amsterdam convidaram um excelente pastor reformado e professor de teologia de fama e prestígio para que refutasse as opiniões de um famoso teólogo chamado Dirk Coornhert. Coornhert argumentava contra as doutrinas reformadas, e tentava minar os ensinamentos reformados com doutrinas semipelagianas. 
As opiniões de Coornhert atacavam de forma direta algumas das doutrinas calvinistas, em suma, no que se refere à predestinação.
Com a intenção de refutar Coornhert, o pastor reformado estudou com enorme dedicação os escritos polêmicos deste teólogo e dedicou-se a compará-los com as Escrituras, com o pensamento teológico dos primeiros séculos e com diversos dos principais teólogos protestantes.

No final de seus estudos e profundas lutas de consciência, o pastor reformado concluiu que Coornhert estava certo, e alegou que toda teologia reformada possuía enormes equívocos.

Em 1603, após uma profunda análise, as opiniões que caminhavam na contra mão da teologia reformada foram consideradas verdadeiras e publicadas.

Foi assim que um teólogo reformado criou a mais famosa antítese do calvinismo, conhecida como Arminianismo. O nome deste grande estudioso de Amsterdam é Jacobus Arminius (Jacó ou Tiago Armínio).

No centro acadêmico a sistematização de Armínio logo foi contestada. Um colega da mesma universidade, Francisco Gomaro, partidário extremista, afirmava que o ser humano não pode realizar nada de bom por suas próprias forças e que requer a graça de Deus para fazer o bem. O quarto ponto literalmente rebate o que Gomaro, João Calvino (um dos reformadores) e até mesmo Agostinho (um dos teólogos mais importantes no desenvolvimento do cristianismo no Ocidente) afirmam; este ponto diz: “No que se refere ao modo de operação dessa graça, não é irresistível, visto que está escrito que muitos resistiriam ao Espírito Santo”. O quinto e último ponto trata acerca de se os que creram em Cristo podem perder a graça ou não. A resposta dos arminianos não é categórica; eles dizem que é necessário que se lhes só deem melhores provas nas Escrituras, antes que estejam dispostos a ensinar que um cristão perde totalmente o favor de Deus ou não.

Com o passar dos anos as circunstâncias não apenas teológicas, mas também políticas, trabalharam drasticamente contra os arminianos, fazendo com que os estados gerais holandeses convocassem uma grande assembleia eclesiástica. Essa grande reunião de teólogos se conhece como Sínodo de Dort.

Reuniu-se desde novembro de 1618 até maio de 1619 não somente os calvinistas daquele país, mas também os do restante da Europa.
O Sínodo de Dort tratou diversos assuntos, inclusive se era necessário produzir uma nova tradução da Bíblia no idioma holandês, mas o foco era responder os artigos Remonstrantes.
Os cânones do Sínodo de Dort promulgaram cinco doutrinas contra os arminianos. Essas doutrinas fizeram parte fundamental na solidificação do calvinismo como doutrina ortodoxa.

A primeira diz que a eleição é incondicional, isto significa que a eleição dos predestinados não se baseava no conhecimento que Deus tem do modo pelo qual cada um responderá ao oferecimento da salvação, senão unicamente no inescrutável beneplácito divino. A segunda afirma que a expiação é limitada; opondo-se aos arminianos, o Sínodo declara: “Ainda que o sacrifício de Cristo seja suficiente para toda a humanidade, Jesus Cristo morreu para salvar unicamente os eleitos”.

A terceira doutrina declara que ainda que reste no ser humano caído certo vestígio de luz natural, sua natureza foi corrompida de tal modo que essa luz não pode ser usada corretamente. A quarta doutrina, conhecida como graça irresistível, afirma que Deus é soberano e pode sobrepujar toda resistência humana quando assim lhe apraz. A última se chama perseverança dos santos, ou seja, Deus através do Espírito Santo servirá para dar-lhe confiança em sua salvação e firmeza no bem, embora vejam o poder do pecado atuando naqueles que creem.

Após o Sínodo de Dort algumas medidas extremadas contra os arminianos foram tomadas. Uns condenados a prisão, outros discípulos de Armínio privados dos púlpitos. Os que insistiam em continuar pregando a controvérsia arminiana eram condenados à prisão perpétua (inclusive fiéis leigos que assistiam cultos com pregação arminiana poderiam ser condenados a pagar pesadas multas). E foi exigido que os líderes dessa revolta aceitassem formalmente a decisão do Sínodo.

A situação na Europa em relação aos arminianos só amenizou oficialmente no ano de 1631, onde eles foram tolerados, e por conta do metodismo, a doutrina arminiana se espalhou pelo mundo.
No Brasil, tal doutrina teve multiplicação instantânea por conta do pentecostalismo clássico, segunda onda pentecostal e neopentecostalismo, que influenciou toda formação doutrinária do evangelicalismo brasileiro.

E você, está de qual lado?


Autor: Higor Crisostomo
Revisão: Miguel Dutra

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

A Apologética e o humor


Uma definição simples e direta da palavra apologética é defesa, que implica em um primeiro momento numa resposta contra algum tipo de acusação ou denúncia. 

Nos séculos II e III da era cristã, a igreja se expandiu, ouve enorme crescimento, a cristandade chamou atenção de pensadores pagãos, que começaram a ataca-la, logo, alguns intelectuais de dentro da igreja começaram defender o Cristianismo destes ataques. Estes cristãos se destacaram na defesa da fé e foram considerados os primeiros apologistas.

Os principais apologistas da igreja são: Aristides, Flávio Justino, Taciano, Atenágoras, Clemente,Teofilo, Orígenes, Irineu, Tertuliano e Cipriano.

O desafio central destes primeiros apologistas era demonstrar que a religião cristã não era uma nova religião, e com isso afirmar que o cristianismo era o cumprir de profecias dadas por Deus aos profetas do Antigo Testamento.

No livro Apologética para glória de Deus, John Frame distingue a apologética em três: Apologética como prova, Apologética como defesa (A mais parecida com a dos primeiros apologistas) e Apologética como ofensiva. 

A primeira apresenta uma base racional para a fé, provando que o cristianismo é a religião verdadeira. A segunda responde de forma direta às objeções de descrentes. Já a última, ataca o pensamento ou cosmovisão dos descrentes e os sofismas que tentam se solidificar dentro da fé cristã. 

Um dos ícones da estratégia ofensiva apologética é o reformador Martinho Lutero. Num contexto onde a igreja estava inundada de negociações financeiras para obter de cargos eclesiásticos, venda de indulgência e acreditava na infalibilidade do Papa, Lutero atacou as doutrinas errôneas da igreja através das suas 95 teses, que foram afixadas na Igreja do Castelo de Wittenberg (31 de outubro de 1517).

Além das 95 teses que Lutero afixou na Igreja do Castelo de Wittenberg, Lutero desenvolveu uma forma de argumentar um tanto diferente. O Reformador criou charges que satirizavam os erros da igreja, algo que até aquele momento nunca ocorreu na história do cristianismo. Lutero usou o humor e ironia como uma ferramenta para conscientizar os fiéis das heresias que dominava o Papado e todo clero.

Alguns dos desenhos de Lutero eram torpes (estes devem ser rejeitados), pois continham nudez explicita, mas o desenho mais famoso dele o “Deuttung der cwo grewlichen Figuren” (Papa-Asno e o Monge-Bezerro), figura que assustava intencionalmente os fiéis, fazendo com que estes ficassem longe do Papado e dos Monges católicos, trazia também a ideia de que o Papa não tinha conhecimento da verdade (Papa-Asno) e os monges eram idolatrados pelo povo como o bezerro de ouro do Êxodo (Monge-Bezerro).




Alguns anos se passaram e hoje, na era digital, é possível observar este tipo de humor misturado com ironia dentro da defesa da fé. Claro, é ilícito levar este discurso humorístico que é ligado diretamente entretenimento ao púlpito, mas diferente do que muitos argumentam a Escritura não proíbe o uso do humor, muito menos proíbe a utilização do humor como ferramenta na defesa da fé.
Os que rejeitam o humor a todo custo fazem três principais objeções. 

A primeira é que o humor não é algo que deve misturar-se com a fé. A segunda é que o humor não faz parte da apologética. E por último, que é ilícito usar humor para defender a fé, pois a Escritura proíbe isso.

Dentro da cultura evangélica a maioria dos cristãos tem uma mente dividia entre sagrado e profano, fazendo uma leitura da realidade um tanto problemática. 

A partir dessa visão de mundo dúbia, o fiel acaba repudiando tudo que a cultura oferece, mesmo que a bíblia não classifique essa produção cultural como pecado.

Essa cosmovisão ofuscada por uma espécie de dicotomia acaba demonizando o uso do humor, que é automaticamente rejeitado pelos cristãos.

O que acaba norteando essa dicotomia não é a Escritura, mas aquilo que o líder ensina (Com base bíblica ou não). Como a maioria dos líderes evangélicos brasileiros não admira o humor e repudiam tudo que contém humor, ensinam os fiéis repudiarem tal manifestação cultural, logo, os fiéis seguem aquilo que está sendo ensinado, sem questionar. 

Influenciados pelo líder, e sem uma autocrítica, os fiéis concluem que todo tipo de humor é profano, e por consequência o humor não deve misturar-se com a fé.

Este grupo de evangélicos está equivocado, pois tudo que existe debaixo do céu é sagrado, pois foi criado por Deus (Gênesis 1.12, 21, 25), e algo só torna-se profano quando está inundado de pecado. Por este motivo temos que usar a Bíblia como regra, e julgar toda manifestação cultural, inclusive o humor, e classifica-lo como lícito ou ilícito.

Uma visão de mundo bíblica ensina que é preciso glorificar a Deus com todas as coisas (1 Coríntios 10:31 - Atos 10:15; Romanos 14:14), independente se aquilo é considerado secular ou não. É possível usar o humor para glória de Deus, claro, quando este humor não estiver debaixo de algo torpe (Efésios 4.29 - Colossenses 3.8 - Tito 2.2-8).

Já a segunda objeção afirma que humor não faz parte da apologética, e em um primeiro momento esse ponto é verdade, pois o leque apologético não pressupõe humor, mas isso não significa que o humor não possa ser usado como ferramenta para auxiliar a apologética.

É possível usar o humor como prova apologética, como defesa apologética e até mesmo de forma ofensiva na apologética.
O humor na apologética como prova tem como função auxiliar a reflexão do leitor a respeito da fé cristã, provando que o cristianismo é verdadeiro. Mas pode inclusive passear em outras áreas da teologia, como demonstrar que a doutrina bíblica deve ser somente extraída da Escritura, que existe um sistema moral absoluto criado por Deus e até mesmo ensinar sobre epistemologia.
Na apologética como defesa, o humor é uma ferramenta extremamente relevante, pois pode ridicularizar o ataque do oponente não cristão ou herege. Os ataques atuais que o humor defensivo advoga são falsas acusações contra a doutrina da predestinação, defesa da família tradicional bíblica e até mesmo questões de gênero.

Já na ofensiva apologética, o humor pode auxiliar atacando o pensamento estulto do incrédulo, falso profeta e falso cristão. Não somos chamados somente para responder indagações, pelo contrário, assim como os profetas do Antigo Testamento, os Apóstolos e o próprio Cristo deveram atacar os falsos ensinamentos anulando sofismas e toda altivez que se levante diante da verdade relevada na Escritura.

O terceiro ponto que tenta reprovar o uso do humor na apologética é um tanto legalista (criando leis humanas e tratando-as como leis de Deus), pois acaba criando um pressuposto além do que a Bíblia ensina.

A Escritura não proíbe o uso de humor na defesa da fé, inclusive, um dos principais profetas do Antigo Testamento utilizou humor para argumentar contra falsos profetas.

O texto bíblico onde o humor é utilizado por um profeta de Deus como uma ferramenta de apologética ofensiva se encontra em 1 Reis 18:27:


E sucedeu que ao meio-dia Elias zombava deles e dizia: Clamai em altas vozes, porque ele é um deus; pode ser que esteja falando, ou que tenha alguma coisa que fazer, ou que intente alguma viagem; talvez esteja dormindo, e despertará.

Neste contexto, o profeta Elias enfrentou de forma direta os falsos profetas de Baal, propondo um desafio. A disputa era para demonstrar se Baal ou o Deus de Israel era o verdadeiro. Foi separado dois novilhos, os falsos profetas de Baal deveriam pegar um dos novilhos, coloca-lo sobre a lenha e invocar Baal, para que fogo descesse do céu, e consumisse a lenha e o novilho. Elias faria o mesmo, mas invocaria o Deus de Israel. Se Baal fizesse descer fogo do céu e consumir o novilho, seria proclamado deus verdadeiro, se o Deus de Israel fizesse descer fogo do céu, seria anunciado como o Deus verdadeiro.

Os profetas de Baal clamavam ao seu deus desde a manhã até o meio-dia, e nada aconteceu. Então, Elias começou zombar deles. As zombarias de Elias eram parecidas com a que Lutero fez em relação ao Papado, eram sarcásticas e desdenhosas, inundadas de uma ironia que soava como enorme desprezo ao falso deus. 

Zombar de falsos deuses ou falsas doutrinas nunca foi censurado na Escritura. A ferramenta humorística que Elias utilizou foi eficaz, pois além de atacar um falso deus, expôs de forma clara a mentira idólatra dos profetas de Baal, além disso, após usar apologética com humor, Deus ouvia sua oração, e consumiu o altar com o bezerro. 

Se a forma com que Elias ironizou e zombou dos falsos profetas fosse considerado por Deus um pecado, dificilmente o Senhor iria responder a oração de Elias.

É evidente para o cristão que usa como bússola somente a Escritura que o humor pode ser utilizado como uma ferramenta relevante na defesa da fé, mas este humor nunca deve ser utilizado como um fim em si mesmo. Claro, não é lícito usar humor chulo e muito menos manusear de forma torpe textos bíblicos que ensinam a verdade, brincar com o nome de Deus ou com sacramentos, mas não é ilícito argumentar usando o humor contra falsos ensinamentos, contra mentiras teológicas, para reafirmar verdades bíblicas e até mesmo contra falsos profetas. 

Existe uma linha tênue que separa o bom uso do humor na apologética, em relação ao uso do humor como um fim em si mesmo, que é errado. Que possamos usar essa ferramenta criativa sempre para glória de Deus.


Higor Crisostomo

quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Diálogo com um pastor pentecostal



Comecei congregar numa igreja pentecostal, e através da Escritura ensinei que a salvação é somente pela fé (Romanos 1:17), não por obras, para que ninguém se vanglorie  (Efésios 2:8,9). 

O pastor contrariado me respondeu: “Não irmão, temos que tomar o céu a força,  se não lutar, não somos salvos.

Continuei ensinando, e expliquei que Deus elegeu os seus antes da fundação do mundo (Efésios 1:3-5), e que não existe nada que faça um salvo perder a salvação (João 6:37-39). 

O pastor indagou dizendo: “Deus elege as pessoas, mas se elas não fizer por onde vão para o inferno”.

Após duas respostas contrárias, abandonei o tema soteriológico, e investi em ensinar sobre a ordem no culto.

Pastor, o culto pentecostal é muito desorganizado e focado na emoção, o culto bíblico é com ordem e decência (1Coríntios 14.40). 

O pastor respondeu: “O que dirige o culto é o “espírito” e temos que dar lugar para o “espírito de Deus operar””.

Ainda sobre o culto, mencionei 1 Coríntios 14:27-28 e afirmei: Os irmãos da igreja não podem falar em línguas no culto de forma desordenada e sem parar, caso não tenha intérprete, devem ficar calados. 

O pastor irritado respondeu: “Crente que não dá glória para cima, não é genuíno, pois quando mandamos glória pra cima, a glória de Deus desce. As línguas no culto é sinal de crente espiritual, você é um crente frio?”.

Após ser acusado pelo pastor de ser frio, questionei a pregação dele: “Pastor, por que a maioria das suas pregações giram em torno de vitórias materiais (1 Coríntios 15:19)?

O pastor respondeu: “Pois em Cristo somos vitoriosos, somos mais do que vencedores, na cruz Cristo levou todas as nossas dores e doenças, ele sempre irá nos trazer vitórias nesta Terra, se você crê”.
Então indaguei: Mas a fé que move Deus, ou nós pedimos e somos atendidos segundo a vontade de Deus? (1 João 5:14). 

O pastor disse: “Sua fé move Deus, ele faz tudo segundo a sua fé”.

Após essa última resposta me retirei da igreja, pois percebi que os pentecostais amam qualquer coisa, menos aquilo que a Escritura ensina.

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Procuro um Pentecostal bíblico!


Quem estudou filosofia vai reconhecer o filósofo da figura, Diógenes de Sinope (413 - 323 a.C.). Diógenes era um pensador grego, símbolo do cinismo. Sua filosofia ensinava uma forma de viver um tanto ascética. Ele pregava que os homens não deveriam viver dependentes das luxúrias da civilização. Dizem que Diógenes era tão desprendido das coisas materiais que vivia nas ruas, dentro de um barril. Ele tinha uma forma um tanto exótica de questionar a civilização grega, e diz-se que o mesmo perambulava pela Grécia antiga com uma lanterna na mão, à procura de um homem honesto. Imitando Diógenes, convido todos os leitores a procurarem, com uma lanterna na mão (a Escritura), um pentecostal bíblico.

O Pentecostalismo no Brasil é formado por três momentos diferentes: O Clássico, o Neoclássico e o Neopentecostal. 
O Pentecostalismo Clássico iniciou-se no Brasil no ano de 1910 e estendeu-se até 1950. Este momento vai desde a implantação do pentecostalismo no Brasil com a Congregação Cristã no Brasil (CCB - 1910, em São Paulo) e da Assembleia de Deus (AD - 1911, Pará) até sua difusão por todo país. A ênfase dessa primeira onda foi o batismo com o Espírito Santo evidenciado pelo “falar em línguas estranhas”, fenômeno este chamado de glossolalia[1]. 
A glossolalia é tão enfatizada por essa primeira onda que membros não participantes deste fenômeno, na maioria das vezes, são classificados como não espirituais, e em algumas denominações não podem exercer cargos eclesiásticos. 

As características secundárias deste primeiro grupo são o ascetismo, que é a rejeição do mundo secular, e a ênfase na experiência pessoal. 

O núcleo querigmático fundante do Pentecostalismo Clássico é o fato que ocorreu no "Dia de Pentecostes" (Atos 2),  acontecimento extraordinário que influencia toda liturgia Pentecostal. Os líderes do movimento Pentecostal Clássico costumam tentar em todo culto reproduzir o que aconteceu em Atos 2. Caso o culto não represente aquilo que o autor de Atos 2 registrou, Deus não estaria naquela celebração, e aquele culto é classificado como frio ou não espiritual.

A segunda onda chamada de Pentecostalismo Neoclássico teve início na década de 50 com a chegada de dois missionários dos EUA em São Paulo. Estes missionários eram da “International Church of The Foursquare Gospel”, uma congregação pentecostal muito popular nos EUA. 

No Brasil, eles criaram a Cruzada Nacional de Evangelização, que influenciou a criação da Igreja do Evangelho Quadrangular (IEQ - 1951, São Paulo). No rastro da IEQ surgiram as igrejas Brasil Para Cristo ( BC - 1955, São Paulo), Deus É Amor ( DA - 1962, São Paulo), Casa da Bênção (CB - 1964, Minas Gerais) e inúmeras outras de menor porte. Diferente da primeira onda, esta se caracterizou pela ênfase na cura divina, pela muita influência nas rádios e pelo evangelismo itinerante em tendas de lona. Dentro desta segunda onda, todo problema de saúde era interpretado de maneira sacral, ou seja, a origem das doenças tinham como causa primária um problema espiritual e a solução eficaz seria apenas a oração; além disso, este poder transcendental miraculoso era oferecido ao fiel como um chamariz.

A última onda nomeada como Neopentecostal, vertente que mais cresceu na última década, começa na segunda metade dos anos 70 e tem seu crescimento acentuado no decorrer dos anos 80 e 90. Os expoentes dessa terceira onda foram: Igreja Universal do Reino de Deus (IURD - 1977, Rio de Janeiro), Internacional da Graça de Deus (IG - 1980, Rio de Janeiro), Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra (CESNT - 1976, Goiás) e Renascer em Cristo (RC - 1986, São Paulo). 

Esta onda, diferindo-se da primeira, já não rejeita o mundo; pelo contrário, tem forte tendência de acomodação ao mundo, participam da política partidária e utilizam intensamente a mídia. A principal característica desta última onda é a Teologia da Prosperidade (TP) que parte da ideia que “É dando que se recebe”, como se o fiel pudesse barganhar com Deus através de ofertas financeiras, e que o cristão autêntico está destinado a ser próspero materialmente, saudável, feliz e vitorioso em todos os seus empreendimentos terrenos. Além disso, trabalha com a teologia de guerra espiritual contra o Diabo, como se o Diabo e Deus fossem forças opostas que disputam todo instante os seres humanos, uma espécie de maniqueísmo[2] ; e nessa batalha, o ideal é estar ao lado do Divino, usando qualquer tipo de método para derrotar o Inimigo.

É perceptível que cada onda tem uma característica própria, mas é impossível negar que há uma comunicação entre as ondas. Essa transmissão teológica ocorre através de uma tríade, que como resultado produz o movimento que existe hoje, que irei nomea-lo como Hiper-Pentecostalismo[3].




No Pentecostalismo Clássico é evidente a ênfase no falar em línguas estranhas (glossolalia), e toda uma busca mística norteia o culto. Foi dentro desta mística litúrgica que o ritual de cura divina enfatizado pelo Pentecostalismo Neoclássico surgiu.

Já a Teologia da Prosperidade não é fácil percebida no Pentecostalismo Clássico, mas o fiel desta onda já tem em mente que oferta é determinante para Deus abençoa-lo, e que o jejum é uma espécie de barganha, um sacrifício que tem como resultado todo tipo de bênçãos.

O Pentecostalismo Neoclássico deixa em segundo plano a glossolalia, e se desenvolve em cima da teologia de cura divina do Pentecostalismo Clássico. Todo leque doutrinário Neoclássico tem como filtro a cura divina. 

Neste segundo momento pentecostal a liderança está interessada em promover congressos itinerantes onde o foco principal é realizar milagres, pois estes acontecimentos sobrenaturais atraem muitas pessoas, e segundo eles, convertem mais indivíduos.

Por fim o Neopentecostalismo, que é sinônimo de Teologia da Prosperidade onde a barganha com a divindade já presente no Pentecostalismo Clássico, mas agora aprimorada, torna-se a hermenêutica principal. Toda realidade do fiel Neopentecostal gira em torno de bênçãos materiais, metafísicas e relacionadas à saúde.
Hoje dificilmente iremos encontrar igrejas pentecostais com apenas uma ênfase teológica. Como já mencionado, o movimento pentecostal contemporâneo pode ser chamado de Hiper-Pentecostalismo, onde todas as características da tríade pentecostal (Glossolalia, Cura, Teologia da Prosperidade) se misturaram e resultam em um movimento único. 

Agregar diversos tipos de teologia em um movimento em si não é problemático, mas como as partes agregadas que formaram o Hiper-Pentecostalismo em si são defeituosas, o resultado final deste aglomerado de teologia acaba sendo controverso.

A Escritura nunca ensinou que devemos enfatizar a Glossolalia, Cura e muito menos a Teologia da Prosperidade. O texto bíblico sempre colocou no centro Cristo (João 5:39), por este motivo, dificilmente encontraremos um pentecostal bíblico, ou melhor, ao longo do desenvolvimento do movimento Pentecostal encontramos lideres que em alguns momentos esbarram numa teologia Cristocêntrica, algo que não é regra, mas é praticamente impossível encontrar um líder ou denominação pentecostal verdadeiramente Cristocêntrica. 

Diferente da mensagem que ao longo dos anos o movimento Pentecostal enfatiza, o cristão bíblico deve enfatizar o Evangelho de Cristo, que é as boas novas do Reino de Deus. Essa mensagem traz o Messias prometido no Éden, o nascimento Dele em Belém da Judeia, Ele crucificado, Sua obra consumada na cruz pelos pecados dos eleitos e Sua ressurreição.

Toda teologia que não coloca o Evangelho de Cristo no centro, se torna um fim em si mesmo, causando enormes problemas. 
Enquanto o aspecto principal do movimento Pentecostal não for à mensagem do Evangelho, o movimento estará fadado ao fracasso.
Que nossos irmãos pentecostais tenham essa consciência, e comecem uma grande reforma pentecostal.

Higor Crisostomo




[1] Fenômeno religioso onde o fiel entra em êxtase e profere sons ininteligíveis que se parecem com linguagem.

[2] Doutrina filosófica fundada pelo profeta persa Mani (ou Manes), no século III, sobre a qual se fundou um dualismo religioso sincretista, segundo o qual existe um conflito cósmico de forças antagônicas do bem absoluto (a luz) e do mal absoluto (as sombras), sendo que é dever do homem lutar pela vitória do bem.

[3] A partícula “hiper” carrega a ideia de muito, em alto grau ou além, no termo hiper-pentecostalismo denota a ideia de além do pentecostalismo, pois nos dias de hoje as ondas pentecostais se misturaram, e cada uma delas vai além da sua ênfase primária.
Exemplo: O Pentecostalismo Clássico que antes tinha como ênfase a glossolalia agora vai além desta prática, pois agrega também em suas doutrinas a teologia da prosperidade.

terça-feira, 16 de agosto de 2016

GERAÇÃO SENSAÇÃO "Muita emoção; pouco conhecimento."



Certa vez um pastor foi convidado para pregar num grande congresso de jovens de uma importante denominação. Depois do “louvorzão” que deixou os jovens bem animados, o pastor perguntou: “Quantos aqui estão sentindo a presença de Deus?” A galera respondeu energicamente com os mais diversos tipos de gritos. Ao que o pastor dissera depois que os gritos silenciaram: “Engraçado, eu não estou sentindo a presença de Deus”. E foi aquele constrangimento... Ele completou seu pensamento dizendo o seguinte: “A presença de Deus independe dos vossos sentimentos. Ela existe independentemente daquilo que sentimos”.

Atualmente nas igrejas muitas pessoas afirmam que um culto foi excelente por causa daquilo que elas sentiram no culto. “O culto hoje foi uma bênção”, normalmente esta afirmação está ligada a algo que a pessoa sentiu. Quando os sentimentos não são sacudidos ou massageados, o culto não é lá essas coisas.

Na mente da geração atual, a presença de Deus está vinculada àquilo que elas sentem no ambiente religioso. Em outras palavras, o julgamento que se faz de uma reunião abençoada está diretamente ligada aos sentimentos. Será que é assim mesmo? As coisas deveriam caminhar por aí? É isso que as Escrituras nos ensinam?
Alguém já disse, acertadamente, que nós somos a “geração sensação”. Por isso que se multiplicam expressões do tipo: “Eu sinto que você não gosta de mim”. “Eu não sinto que Deus me ama”. “Eu não sinto que Deus me perdoou”. “Eu não me sinto filho de Deus”.

Grande parte de nossas decisões e de nossas atitudes são baseadas naquilo que sentimos. “Desculpe, mas eu não consigo controlar os meus sentimentos! É mais forte do que eu”. “Eu estou com uma sensação esquisita”, não tem motivo pra isso, mas a pessoa acha que tem. “Eu sinto que isso não vai dar certo”, muitas vezes esse “sentir” é fruto de preconceito.

É por isso que somos seduzidos o tempo todo em nossas emoções e sentimentos. Por que trocar de carro quando o nosso possui os itens de conforto e segurança funcionando perfeitamente? Porque alguém colocou na nossa cabeça que no carro novo nós vamos nos sentir melhor. Por que é que a depressão e o vazio acabam quando entramos na porta do Shopping Center?

A nossa sociedade é guiada muito mais pela emoção do que pela razão. E aí é muito natural que as igrejas venham a utilizar ferramentas emocionais o tempo inteiro. As liturgias são direcionadas muito mais à emoção do que à razão. O culto abençoado é aquele onde os sentimentos estão positivamente em ebulição. As músicas apelem muito mais aos sentimentos do que ao entendimento. Por isso que as composições atuais são extremamente pobres e não existe mais poesia nas músicas que entoamos. O que existe é um refrão repetido o tempo inteiro, pois isto satisfaz as emoções, não a razão. “São sempre variações do mesmo tema, meras repetições”. (João Alexandre)

As pessoas querem sentir, não querem pensar. Existem alguns fenômenos que comprovam esta tese. Já reparou que existem pessoas que quando acaba o chamado “período de louvor” elas saem do templo? Já observou que o tempo utilizado para o louvor é muito superior ao utilizado na pregação? Já constatou que é fácil ficar horas assistindo um filme, um jogo de futebol, na internet, mas incomoda muito quando o pastor passa dos trinta minutos na pregação? As pessoas querem sentir, não querem pensar!

Nesta “geração sensação” pessoas e igrejas racionais e pouco emocionais, não possuem grande valor. Muita gente ao buscar uma igreja no domingo, procura aquela que tenha a liturgia do Roberto Carlos: “Se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi”.
Este estilo de vida influencia a maneira como nos relacionamos com a igreja, com o próximo e com Deus. Esta é uma das razões pelas quais ao sermos feridos em nossos sentimentos, faltamos aos cultos, chegamos tarde e saímos cedo, damos um tempo... Quando o culto não mexeu com nossos sentimentos, dizemos que o louvor foi frio e a mensagem foi apática. Em quase todas as áreas da nossa vida somos guiados pelos sentimentos e não por aquilo que sabemos e conhecemos.

Neste contexto é de grande relevância a palavra do apóstolo Paulo aos crentes de Roma. “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação dos vossas mentes, para que experimenteis a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”.

É interessante observar que as Escrituras apelam muito mais à nossa razão do que à nossa emoção. Existem vários exemplos bíblicos que nos mostram a verdade de que não é certo viver com base naquilo que sentimos, mas naquilo que sabemos. “Eu sei em quem tenho crido!” (II Tm. 1:12) “Eu sei que o meu redentor vive e por fim se levantará sobre a terra” (Jó 19:25) “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm.8:28) “Sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, de cordeiro sem mácula, o sangue de Cristo”.(I Pe. 1:18,19) “Sabemos que o Filho de Deus é vindo e nos tem dado entendimento para reconhecermos o verdadeiro”. (I Jo. 5:20) “Iluminados os olhos do vosso entendimento, para saberdes qual é a esperança do seu chamamento”. (Ef. 1:18) “Amados, agora já somos filhos de Deus, mas ainda não se manifestou o que havemos de ser, mas sabemos que quando ele se manifestar seremos semelhantes a ele, pois o veremos como ele é” (I Jo.3:2),

E os exemplos continuam... Apanhe uma concordância bíblica e você ficará impressionado com a quantidade de versos que falam da necessidade de pautarmos o nosso comportamento naquilo que sabemos.

Apanhe os escritos de Paulo, ele está o tempo todo dizendo: “Eu sei que sou filho de Deus”. “Eu sei que Deus me ama.” “Eu sei que Deus me perdoou”. “Eu sei que o Espírito de Deus está sobre mim”. “Eu sei que posso vencer a luta contra o mal”. Indiretamente ele está dizendo o seguinte: “Cuidado quando você baseia a sua vida naquilo que você sente. O melhor caminho é basear a sua vida naquilo que você sabe”.

Este texto de Romanos 12 é mais um exemplo de como o apóstolo apela à nossa razão. “Transformai-vos pela renovação da vossa mente”. Segundo Paulo é necessário usar o entendimento, o conhecimento, a reflexão, a análise, a ponderação. É preciso estudar, ler, aprender, refletir, questionar, duvidar, arguir... “crer é também pensar” já dizia John Stott.

Fé não é suicídio intelectual. O autor de Hebreus diz que “pela fé entendemos” (Hb.11:3) Ou seja, não aceitamos as coisas cegamente. Ser cristão não é "apenas ter fé". É ordem bíblica conhecermos o conteúdo da nossa fé e saber porque este conteúdo é verdadeiro, darmos respostas àqueles que questionam a nossa fé (I Pe. 3:15) e destruirmos os argumentos levantados contra a fé cristã (II Cor. 10:4,5)

Usar a razão é parte do maior de todos os mandamentos: "Ame o Senhor de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento". (Mt. 22:37) Escrevendo a Timóteo, o apóstolo Paulo o exortou, dizendo: “Pondera o que acabo de dizer, porque o Senhor te dará compreensão em todas as coisas”. (II Tm. 2:7)
A nossa relação com Deus, com o seu Reino e com os nossos irmãos na fé deve se basear muito mais naquilo que sabemos do que naquilo que sentimos. Você sabe que é correto perdoar, mas você não sente vontade. Você sabe que é certo andar a segunda milha, mas você não está inclinado a isso. Você sabe que deve demonstrar compaixão, mas os seus sentimentos não permitem. Você sabe que não deve fazer fofoca, mas seu impulso carnal, movido por um sentimento de vingança é mais forte. Você sabe que não deve comer aquele Petit Gatou, mas o olho... é grande. Não se deixe guiar pelos seus sentimentos e instintos.

Se você me perguntar: “David, você sempre sente a presença de Deus nos cultos em que participa?” Eu vou lhe dizer o seguinte: “Raramente”. Ou se você perguntar: “Quando você está orando, você sente que Deus está lhe ouvindo?” Na verdade, eu não me preocupo muito com isso. Digo isto, porque eu sei que Deus está me ouvindo! E se você ainda perguntar: “Você sente que Deus te ama?”. Eu não preciso sentir isso. Eu sei que Deus me ama!
Na verdade, sentir a presença de Deus é para mim uma experiência muito rara. Ser tomado por aquela sensação de que Deus está presente não acontece muitas vezes. Eu tenho certeza de que quando você perceber que a presença de Deus envolveu tudo ao seu redor, você não ficará pensando nos seus compromissos da semana, não ficará olhando no relógio pra ver se o culto está acabando, não vai levantar para beber água ou ir ao banheiro enquanto a Palavra está sendo exposta, não vai ficar conversando, não vai ficar disperso, não vai ficar passando mensagem, não vai usar o celular ou o i-pad no momento da pregação.

Na Bíblia, todas as vezes que as pessoas sentiam a presença de Deus, acontecia pelo menos três coisas. Primeiro, um profundo senso de temor, quase um pânico. A primeira coisa que estas pessoas ouviam de Deus era: “não temas, não tenha medo”. Segundo, uma vergonha enorme, uma sensação de inadequação inenarrável por causa do pecado. Algo parecido com o que sentiu Pedro: “Afasta-te de mim que sou pecador” (Lc.5:8), Isaías: “Ai de mim, pois os meus olhos viram a glória de Deus” (Is. 6:5) e Manoá: “Eu vou morrer, pois acabo de me encontrar com Deus” (Jz. 13). E por fim, a terceira reação que as pessoas tinham ao ter consciência da presença de Deus era um amor profundo pelo Senhor. Era algo tão extraordinário que chegaríamos a dizer: “Eu ficaria aqui para sempre”. Foi o que Pedro, Tiago e João desejaram fazer no Monte da Transfiguração. Essa é a ideia do salmista quando diz que: “Na presença de Deus há plenitude de alegria e delícias perpetuamente”.
Portanto, se você me perguntar: “Você tem este profundo senso de temor, quase um pânico?” Raramente. “Você sente esta vergonha, possui este senso de inadequação?” Não muito, mas com uma frequência maior do que a sensação de pânico. “Você sente vontade de nunca mais sair do lugar de culto onde está?” Dificilmente. Mas deixe eu lhe dizer uma coisa, eu não preciso sentir estas coisas para saber que Deus se faz presente. Eu sei, por causa de várias promessas das Escrituras, que Deus está guiando a minha vida.

Existe alguma coisa mais oscilante, e por isso mesmo, desconfiável, do que os nossos sentimentos? Por que é que ouvimos as pessoas dizerem que não devemos tomar decisões no calor do momento? Por que é que grandes amigos brigam num jogo de futebol? Por que existem discussões ásperas em contextos onde os sentimentos “estão à flor da pele”?

O escritor Don Miller certa vez afirmou o seguinte: “O sentimento é algo muito subjetivo, muito transitório, muito interior, muito fugaz, muito ligado a fatores fisiológicos para ser um guia digno de confiança para fé. Confiar em nossos sentimentos é colocar a nossa fé à mercê do nosso fígado, de nossas glândulas endócrinas, da qualidade de nosso sono em qualquer noite, do estado da nossa digestão ou dos problemas do nosso trabalho. O sentimento deve estar sempre sujeito à autoridade da obra salvadora de Deus em Jesus Cristo como declarado na Bíblia.

Certa vez uma mãe que acabara de perder seu filho num acidente de carro, perguntou a um pastor: “Como Deus pôde permitir uma coisa dessas? Onde Ele estava quando permitiu que uma tragédia como essa acontecesse?” O pastor não disse muita coisa, até porque nessas horas não há muito o que se falar, contudo, ele disse o seguinte: “Minha irmã eu não sei lhe dizer muita coisa sobre isso. Mas sei que não devemos nos relacionar com Deus naquilo que sentimos, mas naquilo que sabemos”. Quando os grandes problemas da vida baterem à nossa porta é o que sabemos sobre Deus e não o que sentimos no momento que irá nos sustentar.
Inácio de Loyola, fundador da ordem dos jesuítas, notou que grande parte dos seus discípulos no mosteiro passava por períodos de intensa tristeza. Este sentimento era produzido, principalmente, pelo sentimento de inutilidade. Muitos destes jesuítas questionavam sinceramente a fé que um dia afirmaram possuir. 

Diante daquele cenário de angústia, Loyola afirmou o seguinte: “Em momentos de desolação e tristeza nunca faça mudanças, mas permaneça firme e constante nas resoluções e determinações que foram tomadas no dia anterior ao desânimo ou em um período anterior de consolo”. O que ele estava dizendo é que nós não podemos confiar em nossos sentimentos. Nossas atitudes e decisões não podem ser pautadas nos sentimentos que possuímos, mas naquilo que aprendemos e sabemos ser o correto a ser feito.
Lutero certa vez disse o seguinte: “Eu sei que não sou tudo o que devo ser, eu sei que não sou o que serei, mas pela graça de Deus eu sei que já não sou mais o que eu era”.

Pautar a nossa vida pelos nossos sentimentos é algo muito perigoso. E quando isto acontece em nossa relação com Deus, aí é mais perigoso ainda.
Romanos 11:36

SOLI DEO GLÓRIA!

David Marcos - Batista Reformada de Campos dos Goytacazes

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Cristão, Política, Governo e Estado - Minha reflexão sobre um assunto extremamente delicado.


Não é de hoje que desejo escrever e tornar público meu pensamento acerca da participação política de Cidadãos que professem a Fé Cristã (carinhosamente chamados de crentes).
Este sempre foi um tema tratado com “reticências” demais e “pontos finais” de menos...

Como fui criado em meio às atividades da Igreja de Cristo Jesus – “criado no Evangelho”, como dizemos – acompanho desde cedo o modo escrupuloso, de um lado, e o modo liberalista, de outro lado, como alguns tratam do tema. E, naturalmente, tenho constatado como os dois extremos têm feito mal a um exercício adequado de cidadania para os crentes em Cristo Jesus.

Ao longo dos anos, tenho ouvido frases como “não voto em crente pra não ajudá-lo a se tornar um ladrão”; “crente não se mete em política”; “pastor é pastor e político é político”; “sou contra político dentro da igreja”; “Igreja e política não se misturam”, etc. E, com isso, tenho visto o império do mal sendo beneficiado com um pensamento que até parece puritano e bom, mas é contaminado pelo conceito discriminatório de que todo mundo é corrupto, só lhe faltando a oportunidade.

E, na ausência de um comprometimento mais efetivo dos cristãos com o exercício político, os não cristãos ficam cada vez mais à vontade para eleger aqueles que tratem das causas que lhes são afins.

E – mais grave ainda! – os cristãos, não tendo opções viáveis dentro dos seus quadros de afinidade, acabam ajudando a eleger mandatários que não defenderão assuntos do interesse da Fé Cristã.
Infelizmente, muitos dos que são tão escrupulosos na hora de dizer que não aceitam política na Igreja, não têm o mesmo escrúpulo ao aceitar vender o voto, trocá-lo por um favor, uma bolsa de estudos, uma dentadura, um milheiro de tijolos, etc... e acabam caindo no pecado que tanto condenam naquele que nem mesmo chegou a ser eleito, porque não recebeu os votos dos seus irmãos.

E assim segue a História da Humanidade, com pessoas que não têm nenhum compromisso com a moralidade e o bom serviço se perpetuando no poder, às vezes à custa de votos que poderiam, e deveriam, ser investidos em pessoas que, até onde se prove em contrário, são honestas e de bem.

É óbvio que, como todo investimento, o voto nem sempre nos traz a felicidade de estar associado a uma boa escolha. Sim, às vezes nos enganamos, investimos na pessoa errada, cremos em quem não merecia, votamos em quem nos deu as costas.

Mas, no fim das contas, investindo nosso voto e escolha política em quem conhecemos e sabemos do testemunho, temos uma infinitamente maior possibilidade de não errarmos. E, mesmo que erremos mais uma vez, estaremos aperfeiçoando nossa capacidade de escolha.

Sim, política é coisa de cristão! O crente em Cristo Jesus é um elemento de influência benéfica na Sociedade; e a ferramenta administradora da Sociedade é a política, não a politicagem. E só se distingue a política da politicagem através do voto consciente e em pessoas que já têm demonstrado quem são pelo seu testemunho pessoal.

As Escrituras são sobejantes de exemplos de personagens que foram usados por Deus no campo político para o bem dos Propósitos Divinos: José foi Governador na ímpia nação egípcia; Moisés foi Príncipe na idólatra nação egípcia; Daniel foi Governador na iníqua nação babilônico/medo-persa; Neemias foi nomeado para cuidar dos interesses de Jerusalém na gentílica nação persa; Ester foi Rainha e Mardoqueu Governador, também entre os gentios persas; entre tantos outros exemplos que poderiam ser citados.

Alguém poderia dizer que a política de hoje é diferente da daquela época, e é verdade; aliás, naquela época, era bem mais perigoso ser político, porque não existia o Estado de Direito. Os Governos eram monocráticos, absolutistas, e todos tinham que fazer o que o rei determinava, sendo obrigados a adorar deuses, comer comidas sacrificadas a ídolos, prostituir-se com reis e rainhas. Mas, ainda assim, homens como Daniel, José e Neemias, e mulheres como Ester, não se inclinaram aos interesses deles, arriscando a própria vida por zelo de Deus.

Portanto, Irmãos, deixemos de lado esse escrúpulo que nos impede de participar ativamente das decisões que influenciam nos rumos da Sociedade.

Precisamos, sim, de representantes que sejam nossos olhos nas câmaras legislativas, onde, muitas vezes a portas fechadas, se fazem leis que atentam frontalmente contra a Família, a Igreja, o Cidadão de Bem, a Liberdade de culto e de expressão.
Votemos em quem conhecemos e que sabemos que teme a Deus. E depois, oremos para seja bem-sucedido em seu intento de fazer o melhor naquilo que se propôs realizar.

A Bíblia nos foi dada como Palavra de Deus num contexto eminentemente político (Franklin Ferreira, Bel. Teologia Univ. Mackenzie).

Princípios Bíblicos para o Exercício Político:

Política é coisa de Cristão?

Esta é uma questão que está longe de alcançar unanimidade entre nós, crentes em Cristo Jesus. Considerando as experiências decepcionantes que muitos têm com políticos que prometem muito e nada fazem, além dos casos em que alguns sucumbem à corrupção e ao pecado, muitos acabam desacreditando totalmente da classe política, como se houvesse uma espécie de vírus do mal que atinja a todos os que nesse campo ingressam.

Por conceito geral, muitos acabam por concluir que política é assim mesmo, ou se rouba junto com quem rouba, ou se cala e deixa roubar.

Outro grupo de crentes – bem-intencionados, diga-se de passagem – fazem uma leitura equivocada do conceito de separação entre Igreja e Estado para justificar a ideia de que o Cristão, por ser Igreja, não deve se envolver com política. E aí, a mente vira campo fértil para todo tipo de ideias preconcebidas que negativizam a nobre tarefa do exercício político em prol do bem comum.

Todavia, basta uma brevíssima olhadela no passado para observar que a Igreja sempre proveu grandes nomes para a política brasileira e mundial, pessoas sérias e envolvidas com os mais nobres sentimentos de zelo com a coisa pública: Martin Luther King Jr., um Pastor engajado em movimentos sociais; Jimmy Carter, ex-Presidente dos Estados Unidos da América, um crente Batista que se orgulhava de ser aluno da Escola Dominical; Margareth Tatcher, Primeira-Ministra da Inglaterra, crente Metodista fiel; Nelson Mandela, ex-presidente da África do Sul, também Metodista; Angela Merkel, Luterana e filha de um Pastor; entre outros que poderiamos citar no campo mundial.

No Brasil também temos alguns expoentes: Café Filho, ex-Presidente da República, era Cristão Presbiteriano; Ernesto Geisel, outro ex-Presidente, era Luterano; e tantos outros, como Jeremias de Matos Fontes, Pastor Batista, que foi Governador do Estado do Rio de Janeiro e depois se engajou na Comunidade S-8, que investe no tratamento de dependentes químicos.

Em todas as esferas da política, e em todos os sistemas de Estado e de Governo, vemos Homens e Mulheres de Deus sendo usados de forma brilhante para a consecução de ações benéficas ao bem comum.

O cristão não pode ignorar a sua dupla vocação: deve ser um bom Cidadão dos Céus, mas também deve ser igualmente um bom Cidadão do seu País. Assim sendo, tem dupla responsabilidade no exercício de sua cidadania. Os Herois da Fé que nos antecederam – todos eles ótimos cidadãos e seriamente comprometidos com a construção de uma Sociedade justa e equilibrada – são exemplo de participação e engajamento. 

Não se pode negar que a participação de cristãos verdadeiros nos rumos políticos de uma nação ou uma cidade trará resultados positivos de transformação social.

“É evidente que, a despeito da política, precisamos orar por nossa pátria terrena, evangelizarmos de modo efetivo, discipularmos corretamente e sabermos discernir a Palavra de Deus. Mas também precisamos relacioná-la com os problemas atuais e estudarmos os ensinos políticos, sociais e econômicos das Sagradas Escrituras juntamente com o desenvolvimento do Pensamento Cristão na História. Deste modo, contribuiremos para o despertamento de vocações que se materializarão no espectro da cidadania, ornando em tudo a doutrina de Deus nosso Salvador (Tito 2:10). 

Assim, poderemos compreender melhor o conceito de “co-beligerância” ensinado por Francis Shaeffer que defende a busca de pontos de contato com a sociedade e a cultura para defender a justiça, a paz, o direito e as boas causas enquanto Cristo não vem” (Pr. Wayne Grudemm, no livro “Política segundo a Bíblia: princípios que todo cristão deve conhecer”. São Paulo: Vida Nova, 2014).

Princípios Bíblicos para uma boa Ação Política

Infelizmente, a História nos incomoda com lembranças que gostaríamos de apagar: políticos ditos cristãos, que não honraram o voto recebido e agiram de forma fraudulenta e pecaminosa.
Todavia, as mesmas lembranças que nos incomodam, nos incentivam e ensinam que devemos continuar aprimorando o exercício do voto com cuidadoso critério de escolha.
Ora, se houve equívoco, é porque não houve cuidado na escolha; e, se não houve cuidado na escolha, está na hora de tal cuidado haver.

Do mesmo modo que não devemos parar de pregar o Evangelho só porque alguns que se convertem se tornam apóstatas, também não devemos parar o exercício político só porque alguns não honram o voto que recebem; o garimpeiro não desiste de achar o diamante, mesmo estando com cascalho e lama até o pescoço!

Os exemplos positivos, que são muitos, devem ser um estímulo maior do que os maus exemplos, que são igualmente muitos.
Ao invés de ficarmos resentidos, ruminando os erros que alguns cometeram, comemoremos todo o bem que já foi produzido por Servos de Deus, que honraram a sua fé, mesmo no exercício político: “… A influência cristã levou à extinção males como o aborto, o infanticídio, as lutas entre gladiadores, os sacrifícios humanos, a poligamia, a prática de queimar vivas mulheres viúvas e a escravidão, bem como essa influência levou à concessão de direitos de propriedade, direitos de voto e outras salvaguardas para as mulheres” (Wayne Grudem, Idem).

Não podemos esquecer ainda dos resultados positivos da influência cristã em governantes que escolheram crentes em Cristo Jesus como conselheiros que presentearam nações com ética cristã e valores bíblicos.

A Inglaterra, os Estados Unidos, a Alemanha, a Dinamarca, o Canadá, e tantos outros países bem-sucedidos têm lançado mão dos ensinos bíblicos para pautar suas ações, mesmo que, sendo os homens pecadores, ainda cometam erros.

Como se pode ver, as Escrituras são instrumento de transformação não apenas espiritual, mas também cultural e política. Um País, Estado, ou Município que tem em seus quadros mandatários representantes que creem no Livro Sagrado e que servem a Deus em Espírito e em verdade, certamente serão um baluarte do Reino de Deus em meio aos perversos.

Existem pelo menos três razões fundamentais que justificam a participação de Cristãos no exercício político. Poderíamos citar muitas outras; mas, nos deteremos apenas a estas:

Primeira razão (que eu chamo de razão primordial): Deus criou o Homem para construir uma Sociedade e administrar a Criação (confira Gênesis 1:26,28; 2:15). Sim, esta é uma incumbência que nos foi dada por Deus: cuidar da Criação, administrando-a com o conhecimento que Ele mesmo nos deu.

Esta tarefa foi terrivelmente prejudicada por causa da queda do Homem; mas, tem sido recuperada pela Salvação proporcionada por Cristo Jesus. Isto significa que a salvação não produziu apenas bons cidadãos para o céu, mas excelentes administradores para a terra.

Deus dá a todos os homens inteligência; mas, aos Seus Filhos também dá Sabedoria. E esta Sabedoria deve ser utilizada na construção do bem comum. E o exercício político é o meio pelo qual se pode marcar território em meio à Sociedade perversa e corrupta em que vivemos.

Segunda razão: O Cristão tem o dever de fazer o bem por todos os meios que lhe forem possíveis (confira Mateus 5:15,16; Atos 10:38; Gálatas 6:10; Efésios 2:10; Tito 2.14;3.8). As Escrituras chegam a advertir que, se há meios a nosso dispor pelos quais podemos fazer o bem e não os usamos, cometemos pecado (confira Tiago 4:17)!

O Cristão deve, por todos os meios legítimos disponíveis, fazer parte da vida política e governamental, para ser o prumo da Sociedade, fazendo o bem em louvor ao Senhor e em socorro do próximo, pautando suas ações com ética e honestidade, para marcar o mundo com o caráter de Deus.

Terceira razão: Deus está implantando o Seu Reino, não somente nos céus, mas também na terra, até o dia em que a Igreja daqui seja tirada (confira Salmo 2; Marcos 1:14,15; João 18:36; Atos 1:6-8; 1Coríntios 15:24-28; Filipenses 2:9-11). As Escrituras declaram que o Senhor reina vestido de Majestade sobre tudo, porque tudo lhe pertence! Seu Reino está sendo estabelecido desde a Criacão do mundo, e tal projeto não foi interrompido nem mesmo pela queda Homem; se Adão Caiu, Deus levantou Jesus Cristo; se Israel fracassou, Deus levantou a Igreja; se os ímpios decepcionam, Deus levanta crentes fiéis que estabelecerão a Justiça, ainda que diante de forte oposição perpetrada pelo sistema mundano que rege as mentes dos perdidos.

Diante destas considerações, não se pode negar que, sim, os cristãos que têm talento e vocação política e que, aliado a isso, são crentes verdadeiros e pessoas de caráter probo e reto, serão uma coluna moral na sociedade como um todo, elaborando leis e fiscalizando seu cumprimento para o bem de toda a Sociedade, independentemente de raça, cor de epiderme, religião ou situação social.

Ser um político cristão não significa que desejemos dar contornos religiosos à nação, mas, através da política, contribuir para a construção de uma Sociedade justa, lançando mão daquilo que temos aprendido de Deus e da Sua Palavra.

Sim, o Cristão deve estar lá, no meio deles, prestando atenção às decisões que são tomadas, apoiando o que é certo e combatendo o que é danoso contra a liberdade, o direito, o justo.
O Cristão deve estar lá para cuidar da segurança pública, da justiça social, do meio ambiente, dos pobres e dos menos favorecidos.

O Cristão deve estar lá para combater o aborto, a pornografia, o tráfico de pessoas, a escravização sexual, as drogas, a destruição do conceito de Casamento e Família, o crime organizado, a corrupção, a fome.

O Cristão deve estar lá para cuidar da saúde pública, da educação dos nossos Filhos, da liberdade que temos servir ao Deus Bíblico, e cada um tem de servir ao deus que desejar.
Cristãos verdadeiros, que obedecem a Palavra de Deus e que temem ao Deus da Palavra; esses devem estar lá; mas, no sistema democrático em que vivemos, só chegarão lá com a aprovação de Deus e o nosso voto!


Pastor Aureliano Guimarães Júnior