quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Cristão, Política, Governo e Estado - Minha reflexão sobre um assunto extremamente delicado.


Não é de hoje que desejo escrever e tornar público meu pensamento acerca da participação política de Cidadãos que professem a Fé Cristã (carinhosamente chamados de crentes).
Este sempre foi um tema tratado com “reticências” demais e “pontos finais” de menos...

Como fui criado em meio às atividades da Igreja de Cristo Jesus – “criado no Evangelho”, como dizemos – acompanho desde cedo o modo escrupuloso, de um lado, e o modo liberalista, de outro lado, como alguns tratam do tema. E, naturalmente, tenho constatado como os dois extremos têm feito mal a um exercício adequado de cidadania para os crentes em Cristo Jesus.

Ao longo dos anos, tenho ouvido frases como “não voto em crente pra não ajudá-lo a se tornar um ladrão”; “crente não se mete em política”; “pastor é pastor e político é político”; “sou contra político dentro da igreja”; “Igreja e política não se misturam”, etc. E, com isso, tenho visto o império do mal sendo beneficiado com um pensamento que até parece puritano e bom, mas é contaminado pelo conceito discriminatório de que todo mundo é corrupto, só lhe faltando a oportunidade.

E, na ausência de um comprometimento mais efetivo dos cristãos com o exercício político, os não cristãos ficam cada vez mais à vontade para eleger aqueles que tratem das causas que lhes são afins.

E – mais grave ainda! – os cristãos, não tendo opções viáveis dentro dos seus quadros de afinidade, acabam ajudando a eleger mandatários que não defenderão assuntos do interesse da Fé Cristã.
Infelizmente, muitos dos que são tão escrupulosos na hora de dizer que não aceitam política na Igreja, não têm o mesmo escrúpulo ao aceitar vender o voto, trocá-lo por um favor, uma bolsa de estudos, uma dentadura, um milheiro de tijolos, etc... e acabam caindo no pecado que tanto condenam naquele que nem mesmo chegou a ser eleito, porque não recebeu os votos dos seus irmãos.

E assim segue a História da Humanidade, com pessoas que não têm nenhum compromisso com a moralidade e o bom serviço se perpetuando no poder, às vezes à custa de votos que poderiam, e deveriam, ser investidos em pessoas que, até onde se prove em contrário, são honestas e de bem.

É óbvio que, como todo investimento, o voto nem sempre nos traz a felicidade de estar associado a uma boa escolha. Sim, às vezes nos enganamos, investimos na pessoa errada, cremos em quem não merecia, votamos em quem nos deu as costas.

Mas, no fim das contas, investindo nosso voto e escolha política em quem conhecemos e sabemos do testemunho, temos uma infinitamente maior possibilidade de não errarmos. E, mesmo que erremos mais uma vez, estaremos aperfeiçoando nossa capacidade de escolha.

Sim, política é coisa de cristão! O crente em Cristo Jesus é um elemento de influência benéfica na Sociedade; e a ferramenta administradora da Sociedade é a política, não a politicagem. E só se distingue a política da politicagem através do voto consciente e em pessoas que já têm demonstrado quem são pelo seu testemunho pessoal.

As Escrituras são sobejantes de exemplos de personagens que foram usados por Deus no campo político para o bem dos Propósitos Divinos: José foi Governador na ímpia nação egípcia; Moisés foi Príncipe na idólatra nação egípcia; Daniel foi Governador na iníqua nação babilônico/medo-persa; Neemias foi nomeado para cuidar dos interesses de Jerusalém na gentílica nação persa; Ester foi Rainha e Mardoqueu Governador, também entre os gentios persas; entre tantos outros exemplos que poderiam ser citados.

Alguém poderia dizer que a política de hoje é diferente da daquela época, e é verdade; aliás, naquela época, era bem mais perigoso ser político, porque não existia o Estado de Direito. Os Governos eram monocráticos, absolutistas, e todos tinham que fazer o que o rei determinava, sendo obrigados a adorar deuses, comer comidas sacrificadas a ídolos, prostituir-se com reis e rainhas. Mas, ainda assim, homens como Daniel, José e Neemias, e mulheres como Ester, não se inclinaram aos interesses deles, arriscando a própria vida por zelo de Deus.

Portanto, Irmãos, deixemos de lado esse escrúpulo que nos impede de participar ativamente das decisões que influenciam nos rumos da Sociedade.

Precisamos, sim, de representantes que sejam nossos olhos nas câmaras legislativas, onde, muitas vezes a portas fechadas, se fazem leis que atentam frontalmente contra a Família, a Igreja, o Cidadão de Bem, a Liberdade de culto e de expressão.
Votemos em quem conhecemos e que sabemos que teme a Deus. E depois, oremos para seja bem-sucedido em seu intento de fazer o melhor naquilo que se propôs realizar.

A Bíblia nos foi dada como Palavra de Deus num contexto eminentemente político (Franklin Ferreira, Bel. Teologia Univ. Mackenzie).

Princípios Bíblicos para o Exercício Político:

Política é coisa de Cristão?

Esta é uma questão que está longe de alcançar unanimidade entre nós, crentes em Cristo Jesus. Considerando as experiências decepcionantes que muitos têm com políticos que prometem muito e nada fazem, além dos casos em que alguns sucumbem à corrupção e ao pecado, muitos acabam desacreditando totalmente da classe política, como se houvesse uma espécie de vírus do mal que atinja a todos os que nesse campo ingressam.

Por conceito geral, muitos acabam por concluir que política é assim mesmo, ou se rouba junto com quem rouba, ou se cala e deixa roubar.

Outro grupo de crentes – bem-intencionados, diga-se de passagem – fazem uma leitura equivocada do conceito de separação entre Igreja e Estado para justificar a ideia de que o Cristão, por ser Igreja, não deve se envolver com política. E aí, a mente vira campo fértil para todo tipo de ideias preconcebidas que negativizam a nobre tarefa do exercício político em prol do bem comum.

Todavia, basta uma brevíssima olhadela no passado para observar que a Igreja sempre proveu grandes nomes para a política brasileira e mundial, pessoas sérias e envolvidas com os mais nobres sentimentos de zelo com a coisa pública: Martin Luther King Jr., um Pastor engajado em movimentos sociais; Jimmy Carter, ex-Presidente dos Estados Unidos da América, um crente Batista que se orgulhava de ser aluno da Escola Dominical; Margareth Tatcher, Primeira-Ministra da Inglaterra, crente Metodista fiel; Nelson Mandela, ex-presidente da África do Sul, também Metodista; Angela Merkel, Luterana e filha de um Pastor; entre outros que poderiamos citar no campo mundial.

No Brasil também temos alguns expoentes: Café Filho, ex-Presidente da República, era Cristão Presbiteriano; Ernesto Geisel, outro ex-Presidente, era Luterano; e tantos outros, como Jeremias de Matos Fontes, Pastor Batista, que foi Governador do Estado do Rio de Janeiro e depois se engajou na Comunidade S-8, que investe no tratamento de dependentes químicos.

Em todas as esferas da política, e em todos os sistemas de Estado e de Governo, vemos Homens e Mulheres de Deus sendo usados de forma brilhante para a consecução de ações benéficas ao bem comum.

O cristão não pode ignorar a sua dupla vocação: deve ser um bom Cidadão dos Céus, mas também deve ser igualmente um bom Cidadão do seu País. Assim sendo, tem dupla responsabilidade no exercício de sua cidadania. Os Herois da Fé que nos antecederam – todos eles ótimos cidadãos e seriamente comprometidos com a construção de uma Sociedade justa e equilibrada – são exemplo de participação e engajamento. 

Não se pode negar que a participação de cristãos verdadeiros nos rumos políticos de uma nação ou uma cidade trará resultados positivos de transformação social.

“É evidente que, a despeito da política, precisamos orar por nossa pátria terrena, evangelizarmos de modo efetivo, discipularmos corretamente e sabermos discernir a Palavra de Deus. Mas também precisamos relacioná-la com os problemas atuais e estudarmos os ensinos políticos, sociais e econômicos das Sagradas Escrituras juntamente com o desenvolvimento do Pensamento Cristão na História. Deste modo, contribuiremos para o despertamento de vocações que se materializarão no espectro da cidadania, ornando em tudo a doutrina de Deus nosso Salvador (Tito 2:10). 

Assim, poderemos compreender melhor o conceito de “co-beligerância” ensinado por Francis Shaeffer que defende a busca de pontos de contato com a sociedade e a cultura para defender a justiça, a paz, o direito e as boas causas enquanto Cristo não vem” (Pr. Wayne Grudemm, no livro “Política segundo a Bíblia: princípios que todo cristão deve conhecer”. São Paulo: Vida Nova, 2014).

Princípios Bíblicos para uma boa Ação Política

Infelizmente, a História nos incomoda com lembranças que gostaríamos de apagar: políticos ditos cristãos, que não honraram o voto recebido e agiram de forma fraudulenta e pecaminosa.
Todavia, as mesmas lembranças que nos incomodam, nos incentivam e ensinam que devemos continuar aprimorando o exercício do voto com cuidadoso critério de escolha.
Ora, se houve equívoco, é porque não houve cuidado na escolha; e, se não houve cuidado na escolha, está na hora de tal cuidado haver.

Do mesmo modo que não devemos parar de pregar o Evangelho só porque alguns que se convertem se tornam apóstatas, também não devemos parar o exercício político só porque alguns não honram o voto que recebem; o garimpeiro não desiste de achar o diamante, mesmo estando com cascalho e lama até o pescoço!

Os exemplos positivos, que são muitos, devem ser um estímulo maior do que os maus exemplos, que são igualmente muitos.
Ao invés de ficarmos resentidos, ruminando os erros que alguns cometeram, comemoremos todo o bem que já foi produzido por Servos de Deus, que honraram a sua fé, mesmo no exercício político: “… A influência cristã levou à extinção males como o aborto, o infanticídio, as lutas entre gladiadores, os sacrifícios humanos, a poligamia, a prática de queimar vivas mulheres viúvas e a escravidão, bem como essa influência levou à concessão de direitos de propriedade, direitos de voto e outras salvaguardas para as mulheres” (Wayne Grudem, Idem).

Não podemos esquecer ainda dos resultados positivos da influência cristã em governantes que escolheram crentes em Cristo Jesus como conselheiros que presentearam nações com ética cristã e valores bíblicos.

A Inglaterra, os Estados Unidos, a Alemanha, a Dinamarca, o Canadá, e tantos outros países bem-sucedidos têm lançado mão dos ensinos bíblicos para pautar suas ações, mesmo que, sendo os homens pecadores, ainda cometam erros.

Como se pode ver, as Escrituras são instrumento de transformação não apenas espiritual, mas também cultural e política. Um País, Estado, ou Município que tem em seus quadros mandatários representantes que creem no Livro Sagrado e que servem a Deus em Espírito e em verdade, certamente serão um baluarte do Reino de Deus em meio aos perversos.

Existem pelo menos três razões fundamentais que justificam a participação de Cristãos no exercício político. Poderíamos citar muitas outras; mas, nos deteremos apenas a estas:

Primeira razão (que eu chamo de razão primordial): Deus criou o Homem para construir uma Sociedade e administrar a Criação (confira Gênesis 1:26,28; 2:15). Sim, esta é uma incumbência que nos foi dada por Deus: cuidar da Criação, administrando-a com o conhecimento que Ele mesmo nos deu.

Esta tarefa foi terrivelmente prejudicada por causa da queda do Homem; mas, tem sido recuperada pela Salvação proporcionada por Cristo Jesus. Isto significa que a salvação não produziu apenas bons cidadãos para o céu, mas excelentes administradores para a terra.

Deus dá a todos os homens inteligência; mas, aos Seus Filhos também dá Sabedoria. E esta Sabedoria deve ser utilizada na construção do bem comum. E o exercício político é o meio pelo qual se pode marcar território em meio à Sociedade perversa e corrupta em que vivemos.

Segunda razão: O Cristão tem o dever de fazer o bem por todos os meios que lhe forem possíveis (confira Mateus 5:15,16; Atos 10:38; Gálatas 6:10; Efésios 2:10; Tito 2.14;3.8). As Escrituras chegam a advertir que, se há meios a nosso dispor pelos quais podemos fazer o bem e não os usamos, cometemos pecado (confira Tiago 4:17)!

O Cristão deve, por todos os meios legítimos disponíveis, fazer parte da vida política e governamental, para ser o prumo da Sociedade, fazendo o bem em louvor ao Senhor e em socorro do próximo, pautando suas ações com ética e honestidade, para marcar o mundo com o caráter de Deus.

Terceira razão: Deus está implantando o Seu Reino, não somente nos céus, mas também na terra, até o dia em que a Igreja daqui seja tirada (confira Salmo 2; Marcos 1:14,15; João 18:36; Atos 1:6-8; 1Coríntios 15:24-28; Filipenses 2:9-11). As Escrituras declaram que o Senhor reina vestido de Majestade sobre tudo, porque tudo lhe pertence! Seu Reino está sendo estabelecido desde a Criacão do mundo, e tal projeto não foi interrompido nem mesmo pela queda Homem; se Adão Caiu, Deus levantou Jesus Cristo; se Israel fracassou, Deus levantou a Igreja; se os ímpios decepcionam, Deus levanta crentes fiéis que estabelecerão a Justiça, ainda que diante de forte oposição perpetrada pelo sistema mundano que rege as mentes dos perdidos.

Diante destas considerações, não se pode negar que, sim, os cristãos que têm talento e vocação política e que, aliado a isso, são crentes verdadeiros e pessoas de caráter probo e reto, serão uma coluna moral na sociedade como um todo, elaborando leis e fiscalizando seu cumprimento para o bem de toda a Sociedade, independentemente de raça, cor de epiderme, religião ou situação social.

Ser um político cristão não significa que desejemos dar contornos religiosos à nação, mas, através da política, contribuir para a construção de uma Sociedade justa, lançando mão daquilo que temos aprendido de Deus e da Sua Palavra.

Sim, o Cristão deve estar lá, no meio deles, prestando atenção às decisões que são tomadas, apoiando o que é certo e combatendo o que é danoso contra a liberdade, o direito, o justo.
O Cristão deve estar lá para cuidar da segurança pública, da justiça social, do meio ambiente, dos pobres e dos menos favorecidos.

O Cristão deve estar lá para combater o aborto, a pornografia, o tráfico de pessoas, a escravização sexual, as drogas, a destruição do conceito de Casamento e Família, o crime organizado, a corrupção, a fome.

O Cristão deve estar lá para cuidar da saúde pública, da educação dos nossos Filhos, da liberdade que temos servir ao Deus Bíblico, e cada um tem de servir ao deus que desejar.
Cristãos verdadeiros, que obedecem a Palavra de Deus e que temem ao Deus da Palavra; esses devem estar lá; mas, no sistema democrático em que vivemos, só chegarão lá com a aprovação de Deus e o nosso voto!


Pastor Aureliano Guimarães Júnior

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