Vivemos numa sociedade que substituiu o objetivismo racional pelo subjetivismo relativo, ou seja, ao invés de fundamentar os pensamentos, as frases, os textos e tudo que expressa conhecimento através da formação de conceitos lógicos e reais, os indivíduos optam por basear-se naquilo que é vantajoso crer, norteando-se a partir de si mesmos, ou segundo a cultura em que está inserido.
Este tipo de filtro da realidade é muito comum na igrejas evangélicas brasileiras. O fiel faz uma leitura a partir de si mesmo, enfraquecendo as verdades da Escritura, e, por consequência, qualquer posicionamento dogmático é tratado como uma verdade preconceituosa, fundamentalista ou desprovida de amor.
Indivíduos efeminados não suportam a verdade e rejeitam qualquer tipo de reflexão que não seja superficial. É neste contexto que a frase título deste texto acaba sendo repetida. Cristãos rejeitam a todo custo o estudo da teologia, mas desejam que o cristianismo se multiplique. Contudo, a afirmação: “Mais cristãos, menos teologia” é uma contradição, pois é impossível crer em qualquer aspecto da fé cristã sem a reflexão teológica. Tal frase é tão incoerente como dizer “Desejo melhores resultados aritméticos, mas rejeito o estudo da matemática”.
A teologia não é — como muitos presumem injustamente — uma espécie de conhecimento extraordinário que nega todo tipo de espiritualidade e se encontra acessível apenas a uns poucos intelectuais superiores; pelo contrário, a teologia é simplesmente fé em busca de entendimento. Se cristãos comuns buscam respostas a perguntas que naturalmente brotam da fé, já estão fazendo teologia.
O termo “teologia” é formado pela combinação de duas palavras gregas: theos, que significa “Deus”, e logos, que significa “razão”, “sabedoria” ou “pensamento”. Portanto, teologia significa literalmente “pensamento de Deus” ou “raciocinar sobre Deus”.
É possível afirmar que qualquer pensamento sobre qualquer tipo de divindade é uma reflexão teológica, mas não é impossível afirmar que todo tipo de reflexão teológica é verdadeira.
O filósofo e teólogo R. C. Sproul faz a seguinte afirmação: “Nenhum cristão pode evitar a teologia. Todo cristão é um teólogo. Ele pode não ser um teólogo no sentido técnico ou profissional, mas ainda é um teólogo. A questão não é ser ou não ser um teólogo, mas se somos bons ou maus teólogos”.
Partindo desta afirmação segue um leque teológico que vai desde a “teologia popular” até seu oposto, a “teologia acadêmica”.
A teologia popular é baseada simplesmente na crença não refletida; é uma fé cega que costuma valorizar tradição, liderança e todo tipo de afirmação religiosa sem ao menos se questionar se aquilo é realmente reflexo do que a Escritura ensina.Este tipo de teologia rejeita a reflexão crítica e de forma calorosa abraça crenças e práticas formadas primordialmente por clichês e lendas.
Os adeptos deste tipo de teologia jamais considerariam teólogos como cristãos empenhados em conhecer a Escritura para ajudar a igreja, pois em todo momento os mesmos repudiam o estudo das Escrituras.Os indivíduos que compartilham desta cosmovisão simplesmente creem em frases prontas de efeito que soam espirituais, ou porque tais ditos populares são comunicados por alguém considerado espiritual que os transmite uma sensação de superioridade ou de que supostamente tem maior contato com a divindade.
O segundo nível de reflexão teológica se chama "teologia leiga". Este grau pode ser descrito como um avanço radical em relação ao primeiro nível.O primeiro sinal de um cristão que começa a caminhar neste segundo nível se dá quando questiona os clichês e lendas superficiais da teologia popular. Uma mistura de fé sincera com uma vontade grande de examinar e entender a sua crença causa este primeiro impulso. O cristão leigo começa a analisar louvores, pregações e até atitudes diárias de seus companheiros e líderes, e busca basear esta análise nas Escrituras.
Mas grande parte dos teólogos populares desenvolve um enorme preconceito em relação aos seus irmãos leigos. Os teólogos populares classificam essa nova atitude dos leigos como a evidência de diminuição da espiritualidade. Essa reação costuma desencorajar e intimidar os leigos; alguns retornam a fé mítica, pois a postura anti-intelectual parece mais confortável.
O próximo nível de compreensão teológica ocorre a partir da fé refletida por ministros treinados e educadores nas igrejas cristãs. Nomeia-se este grau de "teologia ministerial". Este é o terceiro nível, que anda na contramão dos populares e eleva-se acima da teologia leiga.
O teólogo ministerial é ferramenta imprescindível nos arraias cristão. Igrejas que não são norteadas por estes ministros estão fadadas ao fracasso espiritual e corre enorme risco de serem dominadas por lobos devoradores.Os teólogos ministeriais costumam utilizar todo tipo de ferramenta disponível para estudar, basear sua fé e adquirir sabedoria para utilizá-la na igreja.
Esses têm conhecimento básico de idiomas bíblicos, ou pelo menos habilidade no uso de concordâncias, comentários, softwares relacionados às Escrituras, além de um conhecimento razoável das perspectivas históricas acerca do desenvolvimento da teologia no curso da história do cristianismo. Possuem também pensamento sistemático perspicaz apto a reconhecer inconsistências entre crenças e a estabelecer a coerência entre um item e outro da fé.
A partir daqui o conhecimento teológico se torna extremamente profundo, e o estudioso costuma lidar com questões extremamente difíceis da nossa fé.
Neste contexto estão inseridos os teólogo profissionais e os acadêmicos.
O teólogo profissional é alguém cuja vocação requer extrema habilidade com as ferramentas utilizadas pelo teólogo ministerial. Estes mestres buscam arrancar os cristãos do pensamento popular, formando neles a consciência crítica. Os métodos utilizados por eles são publicações de livros e artigos, palestras, oficinas e até mesmo métodos ministeriais como a pregação. Os teólogos profissionais são servos essenciais da comunidade cristã, pois ajudam pessoas a pensarem como Cristo, a fim que possam ser mais eficazes no testemunho e no serviço, tanto na igreja quanto na vida diária.
Na ponta deste enorme iceberg estão os teólogos acadêmicos, que são extremamente especulativos, quase filósofos, e nem sempre estão ligados à igreja.Estes cristãos costumam levar a reflexão teológica longe demais, separando-a da fé e buscando o entendimento em proveito próprio. Quem nunca se deparou com um suposto teólogo acadêmico que ao invés de defender uma verdade para glorificar a Deus, a faz para inchar o seu ego e demonstrar aos outros que possuí enorme conhecimento?
Verdadeiramente, os acadêmicos que agem desta forma fazem um enorme desserviço ao evangelho de Cristo, além de viver uma falsa piedade.Por outro lado, os acadêmicos piedosos podem através do examinar as Escrituras minuciosamente contribuir para edificação dos pilares de todo cristianismo.
Onde você se encontra? Sua reflexão teologia é superficial e baseada em mitos ou é extremamente aplicada e narcisista?
Com toda certeza estes dois extremos podem ser prejudiciais, por este motivo é necessário que todo cristão, além de investigar as Escrituras, tenha uma vida em plena comunhão com Deus, e faça tudo para glória Dele.
Nem todas as teologias são iguais, mas é necessário que você direcione de maneira coerente e bíblica o estudo sobre Deus.
Higor Crisostomo
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[i] STANLEY J. Grenz & OLSON E Roger, Iniciação à Teologia: um convite ao estudo acerca de Deus e de sua relação com o ser humano, SP: Editora Vida, 2006.
[ii] Evangelho de Mateus 7:15;23.
[iii] Termo utilizado como sátira, pois os teólogos acadêmicos tem a tendência de se tornarem frios como um iceberg.
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