O que é o Calvinismo? #01

Quando pensamos em calvinismo, o que deve vir em mente é a Reforma Protestante, pois as doutrinas calvinistas são frutos da Reforma.

O estopim da Reforma Protestante ocorreu na Alemanha (31 de outubro de 1517), quando Martinho Lutero afixou na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg as suas 95 teses, que protestavam contra diversos pontos da doutrina da Igreja Católica. Após todo desenrolar deste evento, as doutrinas reformadas defendidas por Lutero se espalharam rapidamente por quase toda Europa, chegando até a França. E foi na França que um jovem chamado João Calvino conheceu as doutrinas da Reforma.

Aos vinte anos de idade, João Calvino teve contato direto com as ideias reformadas, e além de ter contato com os escritos de Lutero,  também estudava alguns dos pré-reformadores como Wycliffe e Huss. Foi ao analisar e estudar estas fontes, e se aprofundar no conhecimento das Escrituras e estudo das antiguidades cristãs, Calvino chegou à convicção de que teria de abandonar a comunhão Romana e seguir o caminho dos Protestantes.

Ao seguir o caminho Protestante, Calvino percebeu que havia um déficit de material Protestante para ser estudado então propôs escrever um resumo da fé cristã, e este projeto foi publicado em 1536, na cidade de Basiléia na Suíça. Em um formato bem menor do que conhecemos hoje, esta é a famosa obra, Institutas da Religião Cristã, que naquela primeira publicação tinha apenas seis capítulos.

Calvino não tinha a menor intenção de dedicar-se à vida ativa de seus muitos correligionários que em diversas vezes levaram a cabo a obra reformadora, mas ao passar pela cidade de Genebra, Calvino conheceu Guilherme Farel, um evangelista francês fundador de muitas igrejas reformadas, com quem teve uma longa conversa.

E nessa conversa que Calvino foi convidado a permanecer em Genebra e assim ajudar Farel, mas Calvino não quis ficar, pois disse ter alguns estudos planejados e se ficasse em Genebra, não teria como termina-los. Foi então que com voz estridente Farel disse a Calvino: “Deus amaldiçoe teu descanso e a tranquilidade que buscas para estudar, se diante de uma necessidade tão grande te retiras e te negas a prestar socorre e ajuda”.

E foi diante de tal imprecação, Calvino desiste de sua empreitada, e aceita ficar em Genebra, e começa sua carreira como reformador Genebrino.

Em Genebra, Calvino se tornou um dos principais líderes eclesiásticos, e a capacidade de Calvino em expor as Escrituras ia se tornando conhecida, assim como suas obras, que já influenciava outras partes da Europa, como na Holanda, Escócia, Hungria e até na França.

Em seus escritos, Calvino registra aspectos essenciais do cristianismo, como a Santa Ceia, a Trindade, Batismo, a separação do Estado e Igreja, Os Dez Mandamentos, os Credos, a Oração, o Conhecimento de Deus, Criação, Soteriologia entre outros temas. Mas foi após mais ou menos cinquenta anos da morte de Calvino, que um dos pontos doutrinários discutido por ele seria colocado em evidência.

Neste ponto histórico, as igrejas da Europa já eram chamadas de Luteranas ou Calvinistas, ou seja, as Luteranas seguiam as doutrinas de Lutero, e as igrejas Calvinistas as doutrinas de Calvino. E foi dentro de uma congregação Calvinista Holandesa que um pastor e professor chamado Jacó Armínio, começou a questionar pontos da teologia Calvinista, em especial, as doutrinas soteriológicas.

Um dos principais pontos soteriológicos questionados por Armínio era a predestinação. Armínio defendia que Deus predestinou os eleitos porque sabia de antemão que teriam fé em Jesus Cristo, diferente da visão Calvinista, que afirma que Deus predestinou a alguns a terem a fé, e por isso os elegeu antes da fundação do mundo.

Armínio morreu em 1609, mas o conflito não terminou com sua morte. Em 1610, alguns partidários de Armínio produziram um documento de protesto chamado “Remonstrantia”. Este documento foi apresentado à igreja na Holanda e incluía cinco artigos que tratavam sobre as principais questões da disputa.

Os artigos eram:

1 – Deus determinou antes da fundação do mundo que os salvos seriam aqueles que cressem em Cristo.

2 – Jesus Cristo morreu por todos os seres humanos.

3 – O ser humano não pode realizar algo bom por suas próprias forças e requer a graça de Deus para fazer o bem.

4 – No que se refere ao modo de operação da graça, não é irresistível, visto que está escrito que muitos resistiriam ao Espírito Santo.

5 – Os indivíduos que creem em Cristo, não podem perder a graça.

Para responder este documento, a igreja Holandesa junto com o Estado convocaram uma grande assembleia eclesiástica, o famoso Sínodo de Dort.

Este grande Sínodo, em resposta a “Remonstrantia”, promulgou cinco doutrinas refutando este movimento heterodoxo.

Esta cinco doutrinas são:

1 – Total Depravação - Todos os homens nascem totalmente depravados, incapazes de se salvar ou de escolher o bem em questões espirituais.

2 – Eleição Incondicional - Deus escolheu dentre todos os seres humanos decaídos um grande número de pecadores por graça pura, sem levar em conta qualquer mérito, obra ou fé prevista neles.

3  - Expiação Limitada - Jesus Cristo morreu na cruz para pagar o preço do resgate somente dos eleitos.

4 – Graça Irresistível - A Graça de Deus é irresistível para os eleitos, isto é, o Espírito Santo acaba convencendo e infundindo a fé salvadora neles.

5 – Perseverança dos Santos - Todos os eleitos vão perseverar na fé até o fim e chegar ao céu. Nenhum perderá a salvação.

Estes cinco pontos ficaram famosos e foram nomeados como os cinco pontos do Calvinismo.

Ao contrário do que muitos pensam, não foi João Calvino quem escreveu estes cinco pontos, mas foi o Sínodo de Dort, que sistematizou aquilo que Calvino escreveu sobre a questão soteriológica bíblica.

Como demonstrado, quando pensamos em Calvinismo, devemos apontar diretamente para tudo que João Calvino escreveu, mas quando falamos de Soteriologia Calvinista, somos remetidos a TULIP, ou melhor, os cinco pontos do Calvinismo sistematizados no Sínodo de Dort.

Por: Higor Crisostomo